Ocorreu na sexta-feira, dia 10 de maio, o Bate-Papo em razão do 58º Dia Mundial das Comunicações, com o tema “Inteligência artificial e sabedoria do coração: para uma comunicação plenamente humana”. O evento, desejado e convocado pelo Cardeal Arcebispo Dom Paulo Cezar Costa, contou com a sua presença e com a presença do comunicador, nacionalmente conhecido, Gerson Camarotti.
Além disso, participaram do evento aproximadamente cem inscritos, dentre eles, comunicadores sociais, jornalistas de diversos meios de imprensa, além de dezenas membros da Pastoral da Comunicação das paróquias da Arquidiocese.
Após a apresentação de ambos os participantes do Bate-Papo, feita pelo Pe. Roger Araújo, Dom Paulo Cezar lembrou da tragédia que ocorre no Rio Grande do Sul e rezou pelo povo gaúcho, para que o Bom Deus de Misericórdia dê o conforto e força a todos aqueles que estão sofrendo.
A Mensagem do Papa sob a ótica de um comunicador
O primeiro a ter o uso da palavra foi Gerson Camarotti. Ele, durante toda a sua fala, comentou a mensagem do Papa Francisco em razão do 58º Dia Mundial das Comunicações, sob a perspectiva de um jornalista, descrevendo a importância, mas também as dificuldades e perigos que a Inteligência Artificial (I.A.) proporciona para toda a humanidade.
Iniciou o seu comentário citando a próxima viagem do Santo Padre, que se dará em razão do encontro do G7, na Puglia, no sul da Itália. É a primeira vez que um Pontífice participa dos trabalhos do G7, sendo assim, um acontecimento inédito. O tema que o Papa Francisco quis tratar neste momento é justamente o da Inteligência Artificial, com seus benefícios e perigos.
Ao comentar a mensagem do Papa, Camarotti citou os perigos das Fake News e da Deep Fake, que a I.A. tem capacidade de produzir, enganando a muitos. Essas falsas notícias, produzidas “principalmente de forma clandestina”, afirmou Camarotti, “impressionam e assustam”.
Para exemplificar isso, ele citou a imagem produzida artificialmente do Santo Padre, que se popularizou mundialmente, mesmo sendo falsa. Ademais, relata que, infelizmente, o que engaja e o que move o algoritmo, na maioria das vezes, “são as informações falsas e o discurso de ódio [..], já que é sedutora e mostra o que as pessoas querem ouvir”.
Comentou, além disso, a monetização que os produtores de informações falsas conseguem, movimentando muito dinheiro entorno das informações produzidas artificialmente e que não condizem com a realidade. Lamentavelmente, há pessoas ganhando dinheiro com Fake News.
Complementando, Gerson Camarotti disse que “se deve respeitar a pluralidade de ideias, respeitando a cada um: este é um desafio”. Isto porque, continua, “ninguém mais quer ouvir e refletir o que o outro propõe”, fazendo com que os meios de comunicações se tornem meios de divisão e não de comunhão. Por fim, afirmou categoricamente sobre o texto do Papa: “uma mensagem mais lúcida que esta, impossível”.
Aspectos teológicos da Mensagem
Dom Paulo Cezar, focando no aspecto teológico da mensagem do Papa Francisco, afirmou que ele, como Arcebispo Metropolitano de Brasília e, com isso, Pastor responsável por um povo determinado, deve falar do tema da Inteligência Artificial, já que é uma realidade muito atual, que influencia diariamente o mundo. Acrescenta, afirmando, que não se pode fugir deste tema e nem mesmo do mundo em que vivemos, que avança com as tecnologias a cada dia.
Citou, assim como o Santo Padre, a fala de Romano Guardini sobre a mudança do mundo: advertia: «O nosso posto é no devir. Devemos inserir-nos nele, cada um no seu lugar (…), aderindo honestamente, mas permanecendo sensíveis, com um coração incorruptível, a tudo o que nele houver de destrutivo e não-humano». Sobre esta citação, ele comentou que o homem “não pode querer se encasular no passado”: o mundo muda em muitos aspectos. Deve-se, então, fugir de uma bolha que prende ao passado.
Lembrou, ademais, que esta mensagem para o 58º Dia Mundial das Comunicações vem em continuidade com a mensagem publicada para o Dia Mundial da Paz de 2024, que já tratou do tema da Inteligência Artificial. O Papa Francisco, naquela época, já citava o tema, partindo sempre da realidade de tecnologia e encaixando no quesito teológico e pastoral.
Diante da proposta para este ano, Dom Paulo afirmou que a inteligência fria, proporcionada pela Inteligência Artificial, faz com que se perca o relacionamento entre os homens, perdendo, assim, sentimentos humanos e a sabedoria, que é própria do ser humano.
Toda informação, lembrou o Cardeal de Brasília, “deve estar permeada de sabedoria e deve proceder do coração”: não de qualquer coração, mas um “coração que ama e que se deixa dilatar”. Afinal, a busca pela sabedoria é própria de cada homem. Sendo assim, a internet não pode ser lugar de guerras e de propagações de Fake News.
Sendo assim, é muito importante que o homem não esqueça o que lhe é próprio, que é a busca da sabedoria. Sendo assim, ele deve crescer na sua humanidade. No entanto, não sozinho, deve-se crescer “em comunidade”. Citando a Fratelli Tutti, diz que é preciso viver uma sociedade de irmãos, na qual “não se vê no próximo somente um ser humano, mas um irmão, que deve amar e respeitar”.
No final, ao responder as perguntas, Dom Paulo Cezar falou que se faz necessário usar esses meios de informação para bem formar o homem, ainda mais no caminho das virtudes. Citando Blaise Pascal, afirmou que o homem é capaz de fazer o bem e de fazer o mal. Sendo assim, já que se tem tantos instrumentos para fazer o bem, deve-se aproveitar para propagar o bem, e não para causar o mal.
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