Estamos celebrando a solenidade de Pentecostes. Nesta festa, em que o mundo judaico celebrava o dom da Torá, o cristianismo celebra o dom do Espírito Santo. O texto do Evangelho de São João (Jo 20, 19-23) coloca o dom do Espírito como fruto da ressurreição. O ressuscitado sopra sobre os seus e lhes dá o Espírito Santo: “E depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: Recebei o Espírito Santo” (Jo 20, 22). O Espírito tinha conduzido Jesus durante todo o seu ministério; agora, morto e ressuscitado, ele se torna para os seus o doador do Espírito Santo. O Evangelho de São João mostra que Jesus na cruz “entregou o Espírito”. O sopro humano ou pneuma, unido ao verbo paradidomi, significa que Jesus começou a dar o Espírito já na sua glorificação na cruz. Hipólito, um escritor do terceiro século, sublinha esse aspecto com uma metáfora: como o vaso despedaçado espalha o perfume que contém, assim, Cristo, vaso despedaçado na cruz, doa aquilo que tem, o Espírito Santo. Santo Irineu afirma que, depois da Páscoa, é-nos dada a abundância daquele Espírito recebido por Jesus no batismo do Jordão.
O livro dos Atos dos Apóstolos narra a experiência que os discípulos viveram em Pentecostes (At 2,1-11) e como essa experiência impactou toda a vida da Igreja. Os apóstolos estão reunidos e, sobre cada um deles, vêm pousar como que línguas de fogo. Todos ficam cheios do Espírito Santo. Os apóstolos experimentam com força a sua ação. Eram medrosos, estavam fechados, com medo dos judeus. O Espírito Santo transforma a realidade dos apóstolos, coloca-os numa posição de saída. O fruto imediato da experiência do Espírito Santo é a pregação sem medo, com paresia, na qual os apóstolos testemunham o que aconteceu com Jesus de Nazaré, como ele foi morto e como Deus o ressuscitou. O Espírito manifesta a Igreja na sua universalidade. Jesus tinha anunciado o Reino de Deus na Palestina — sua pregação se limitara àquela região. Agora, já em Pentecostes, a Igreja se manifesta na sua universalidade, pois os discípulos falam e cada um os ouve na sua própria língua: o texto de Atos fala de diversas nacionalidades que se encontravam em Jerusalém, as quais escutavam os discípulos anunciarem as maravilhas de Deus na sua própria língua.
O Espírito não fala de si mesmo, ele sempre conduz ao testemunho de Jesus Cristo. Movida pelo Espírito Santo, a Igreja nascente fará com que o Evangelho saia de Jerusalém e chegue até o centro do mundo habitado daquela época: Roma. O Espírito Santo transforma a vida e a situação dos apóstolos. Ele coloca a Igreja nascente numa posição de saída. O livro dos Atos dos Apóstolos mostrará como a Igreja nascente se deixa conduzir pelo Espírito. O Espírito conduz os evangelizadores, indica para onde devem se deixar conduzir, a quem devem pregar, suscita diversidade de carismas, de dons, etc. Tudo isso evidencia a experiência forte que a Igreja das origens fez da ação do Espírito Santo. Hoje, Papa Francisco mostra como é importante a abertura à ação do Espírito; para escutá-lo, porém, é preciso seguimento autêntico de Jesus Cristo, é preciso espiritualidade, vida de oração. O Espírito é a memória viva de Jesus Cristo para nós na atualidade — escute-mo-lo.