Neste domingo, a Igreja coloca diante de nós o mistério da Assunção de Maria. A Igreja professa a fé de que Maria está junto de Deus em corpo e alma, de que nela já se realizou aquilo que os justos ainda esperam, a ressurreição do corpo; de que ela está no céu em corpo e alma, com um corpo já glorificado. Aquilo que a Igreja espera, em Maria já se realizou totalmente. Nas palavras de H. Schurmann: “Esta é a festa do seu destino de plenitude e bem-aventurança, da glorificação de sua alma imaculada e de seu corpo virginal, de sua perfeita configuração com Cristo ressuscitado” (Il Vangelo di Lucas, I). O mistério da grandeza de Maria começa a ser narrado no Evangelho de São Lucas, com a anunciação (Lc 1, 26-38), em que ela é saudada como a cheia de graça, a mulher que encontrou graças diante dos olhos de Deus, recebendo-lhe o pedido para ser a mãe do seu Filho e colocando a sua liberdade à disposição dele com o seu sim.
O Evangelho de hoje é continuação do mistério da anunciação, pois narra a visitação de Maria a Isabel e o Magnificat. Maria, após a anunciação, parte apressadamente ao encontro de Isabel. “Apressadamente” significa: a mulher que quer realizar, na sua vida, a vontade de Deus. O texto bíblico narra o encontro entre essas duas grandes mulheres enfatizando como Maria supera Isabel; mostra como a própria Isabel narra a grandeza de Maria, que é chamada “mãe do meu Senhor”, quer dizer: Mãe de Deus. Isabel narra como a saudação de Maria impactou a sua vida e a da criança que estava sendo gerada: “Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo” (Lc 1, 41). Essa saudação é muito mais que saudação, é anúncio da chegada da paz messiânica, é anúncio de que aquele que é a verdadeira paz se encontra no meio da história. Isabel narra que a criança pulou de alegria. É a alegria da salvação de Deus presente na história, a alegria messiânica. Maria é chamada de bem-aventurada porque acreditou. Acreditar é abandonar-se à vontade e ao projeto de Deus. Por isso ela é modelo para a Igreja que caminha na fé, para cada um de nós que vive da experiência da fé.
Maria, agora, proclama o Magnificat onde canta aquilo que Deus fez na história do seu povo e na sua história. O mesmo Deus que operou grandes coisas na história do Antigo Testamento olhou para a humildade de Maria. Maria canta que a sua misericórdia perpassou as diversas gerações que esperaram nele, que o temeram. Ela sintetiza a memória agradecida dos grandes personagens do Antigo Testamento, dos pobres que, fazendo de Deus sua grande riqueza, não viram, mas esperaram o dia do Messias. Ela representa o desfecho novo da história da grande esperança que perpassou o tempo da espera, o Antigo Testamento. Ela, mãe humilde, traz o Salvador e abre a vida humana e a história à grande esperança de Deus, à eternidade, à glorificação futura que atingirá até o nosso corpo e que, nela, já é realidade, já se cumpriu definitivamente. Contemplemos, no mistério da Assunção, essa nossa grande esperança já realizada.