Papa Francisco nos explica a Palavra de Deus deste domingo. “Neste domingo retomamos a leitura do Evangelho de Marcos. No trecho de hoje (cf. Mc 7, 1-8.14-15.21-23), Jesus enfrenta um tema importante para todos nós crentes: a autenticidade da nossa obediência à Palavra de Deus, contra qualquer contaminação mundana ou formalismo legalista. A narração inicia com a objeção que os escribas e os fariseus dirigem a Jesus, acusando os seus discípulos de não seguirem os preceitos rituais segundo as tradições. Deste modo, os interlocutores pretendiam prejudicar a credibilidade e a autoridade de Jesus como Mestre, pois diziam: ‘Mas este mestre deixa que os discípulos não cumpram as prescrições da tradição’. Contudo, Jesus reage incisivamente e responde: ‘Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, quando escreveu: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Vão é o culto que me prestam, e as doutrinas que ensinam não passam de preceitos humanos’ (vv. 6-7). Assim diz Jesus. Palavras claras e fortes! Hipócrita é, por assim dizer, um dos adjetivos mais fortes que Jesus usa no Evangelho e pronuncia-o dirigindo-se aos mestres da religião: doutores da lei, escribas… ‘Hipócrita’, diz Jesus.
Com efeito, Jesus tenciona fazer com que os escribas e os fariseus despertem do erro no qual caíram, mas qual é este erro? Desvirtuar a vontade de Deus, descuidando os seus mandamentos para cumprir as tradições humanas. A reação de Jesus é severa porque o que está em questão é importante: trata-se da verdade da relação entre o homem e Deus, da autenticidade da vida religiosa. O hipócrita é um mentiroso, não é autêntico.
Também hoje o Senhor nos convida a evitar o perigo de dar mais importância à forma do que à substância. Exorta-nos a reconhecer, sempre de novo, aquele que é o verdadeiro centro da experiência de fé, ou seja, o amor de Deus e o amor do próximo, purificando-a da hipocrisia do legalismo e do ritualismo.
A mensagem do Evangelho é hoje reforçada também pela voz do Apóstolo Tiago, o qual nos diz em síntese como deve ser a verdadeira religião, afirmando o seguinte: a verdadeira religião consiste em ‘visitar os órfãos e as viúvas nos sofrimentos e não se deixar contaminar por este mundo’ (v. 27).
‘Visitar os órfãos e as viúvas’ significa praticar a caridade para com o próximo a partir das pessoas mais necessitadas, mais débeis, mais marginalizadas. São as pessoas das quais Deus cuida de modo especial, e pede a nós para fazermos o mesmo.
Não se deixar contaminar por este mundo’ não significa isolar-se e fechar-se à realidade. Não. Também neste caso, não deve tratar-se de uma atitude exterior mas interior, de substância: significa vigiar para que o nosso modo de pensar e de agir não seja poluído pela mentalidade mundana, isto é, a vaidade, a avareza, a soberba. Na realidade, um homem ou uma mulher que vive na vaidade, na avareza, na soberba e, ao mesmo tempo, crê e se mostra como religioso e inclusive condena os outros, é um hipócrita”. […] (Papa Francisco, Angelus de 2 de setembro de 2018)
Deixemos com que essa Palavra de Deus nos interpele sobre a nossa forma de viver a fé, de viver uma verdadeira relação com Deus e com o próximo.