Estamos celebrando o domingo Gaudete, o domingo da alegria. Tanto a primeira leitura (Sf 3, 14-18) como a segunda leitura (Fl 4, 4-7) exortam à alegria. A alegria bíblica não é como a alegria do mundo, ela se realiza em conexão com o plano de Deus, com o projeto de Deus. O livro de Sofonias passa da linguagem de condenação, de juízo que domina quase todo o livro, para a linguagem da promessa na parte final do escrito. A mudança se dá porque Deus deixará “um povo humilde e pobre (ânî wâdâl …) e procurará refúgio no nome de Iahweh o Resto de Israel” (Sf 3, 12-13). Um povo humilde e pobre que não conhece orgulho e presunção e, por isso, aceita a vontade de Deus. Para o profeta, orgulho e presunção estão na raiz de todos os males. O Senhor revogou a sentença, então convida à alegria. Graças a esse resto humilde e pobre, o Senhor revogou a sentença, eliminou o inimigo, está no meio do povo. “O Senhor está no meio de ti”, aparece duas vezes nesse pequeno texto. Essa expressão evoca a aliança, na qual o povo estabelece, de novo, aquela relação vital que faz de Deus um pai e de Israel um filho.
Em Filipenses (Fl 4, 4), o convite é a se alegrar no Senhor, aparecendo duas vezes no mesmo versículo. A proximidade do Senhor deve ser fonte de alegria. Papa Francisco insiste neste fato: a alegria na vida cristã, na vida de fé. Em Evangelii Gaudium, ele afirma: “A Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria. Quero, com esta Exortação, dirigir-me aos fiéis cristãos a fim de os convidar para uma nova etapa evangelizadora marcada por esta alegria …”. A tristeza pode ser um grande risco no mundo atual, denuncia o Papa: “o grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota de corações comodistas e mesquinhos, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada”.
O Evangelho coloca diante de nós a pergunta: “que devo fazer?”. João Batista, o grande profeta do Advento, deste tempo de espera, interpelava as categorias bem concretas de pessoas que vinham a ele fazendo-os descer à concretude da vida, aos pequenos e grandes atos que constituem a vida cotidiana. Descer à concretude é fundamental. É no concreto que se manifesta a verdade da vida, da existência. Por isso, na bipolaridade entre realidade e ideia, Papa Francisco afirma que a realidade é mais importante. Quem vive somente de ideias perde a realidade, não consegue tocar a verdade da realidade, a verdade da vida, a verdade da história. João Batista faz com que cada categoria concreta de pessoa, que vem a ele buscando mudar de vida, dê um passo, se converta. Ele as faz descer ao concreto da ação do dia a dia. Que esta Palavra de Deus nos ajude no nosso processo de conversão, na espera do Senhor, a dar passos concretos de crescimento, experimentando a alegria do Evangelho.