A palavra de Deus deste domingo, principalmente na primeira leitura (Ecl 1,2; 2, 21-23) e no Evangelho, coloca diante de nós a fugacidade da vida e dos bens deste mundo. O Eclesiastes, na agudez do seu juízo, torna-se muito atual para uma sociedade que vive da aparência e do efêmero. Ele descreve com crueldade a dureza da vida e a sua fugacidade, onde tudo é vaidade. Num pequeno texto, a palavra vaidade aparece sete vezes. O ser humano nasce sem nada e termina a vida também sem nada. A vida parece injusta. Os homens constroem impérios, edificam e deixam tudo para os outros, partem sem nada deste mundo. O Autor de Eclesiastes expressa essa realidade: “(…) vaidade das vaidades! Tudo é vaidade. Por exemplo: um homem que trabalhou com inteligência, competência e sucesso vê-se obrigado a deixar tudo em herança a outro que em nada colaborou”. É a realidade dura e crua da vida humana quando olhada somente sob o prisma deste mundo.
O Evangelho continua a narrar a insensatez do homem que vive voltado somente para os bens deste mundo, mas termina alargando o horizonte mostrando que é preciso ser rico diante de Deus. Bento XVI nos ajuda a entrar nesse Evangelho: “(…) o ensinamento de Jesus diz respeito precisamente à verdadeira sabedoria e é introduzido pelo pedido de uma pessoa do meio da multidão: ‘Mestre, diz a meu irmão que reparta comigo a herança’ (Lc 12, 13). Respondendo, Jesus chama a atenção dos ouvintes para o desejo dos bens terrenos com a parábola do rico insensato que, tendo acumulado para si uma colheita abundante, para de trabalhar, dissipa os seus bens divertindo-se e chega a iludir-se que pode afastar a própria morte. ‘Deus, porém, disse-lhe: ‘Insensato! Nesta mesma noite pedir-te-ão a tua alma, e o que acumulaste, para quem será?’’ (Lc 12, 20). Na Bíblia, o homem insensato é aquele que não quer compreender, da experiência das coisas visíveis, que nada dura para sempre, mas tudo passa: tanto a juventude como a força física; quer as comodidades, quer as funções de poder. Por conseguinte, fazer depender a própria vida de realidades tão passageiras é insensatez. Por sua vez, o homem que confia no Senhor não tem medo das adversidades da vida, nem sequer da realidade iniludível da morte: é o homem que adquiriu ‘um coração sábio’, como os Santos” (Bento XVI, Angelus de 1 de agosto de 2010).
Mas como sair dessa armadilha da vida, da vaidade da existência, e ser rico diante de Deus? São Paulo nos exorta, na segunda leitura, a nos esforçarmos para alcançar as coisas do alto, onde está Cristo sentado à direita de Deus (Cl 3, 1). Ser rico diante de Deus implica viver fazendo o bem; mesmo os bens que possuímos, usá-los para fazer o bem. Nós levaremos deste mundo o bem que tivermos feito. Seremos julgados um dia pela nossa capacidade de amar: pelo nosso amor para com Deus e para com o nosso próximo (Lc 10, 25-37). São João da Cruz diz que “no entardecer da vida te examinarão no amor”. O bem que fizemos, o quanto fomos dom de amor, esse deve ser o nosso grande tesouro. Quem ama e faz o bem entesoura em Deus.