As leituras da Liturgia de hoje, principalmente a primeira (Is 66,18-21) e o Evangelho (Lc 13,22-30), apresentam uma visão universalista da salvação de Deus. A revelação de Deus se dá no seio do Povo de Israel, mas aos poucos vai-se encontrando uma visão universal da salvação de Deus, que deve atingir todos os povos, todas as nações. O livro do Profeta Isaías termina com essa visão universal: “Eu virei, a fim de reunir todas as nações e línguas; elas virão e verão a minha glória” (Is 66,18). E, ainda, os sobreviventes serão os missionários às nações e ilhas distantes que nunca ouviram falar de Iahweh e nem conhecem a sua glória. “E das nações trarão todos os vossos irmãos como oferenda a Iahweh, em Jerusalém, seu monte santo. (…) E alguns serão tomados como sacerdotes e levitas” (Is 66,20-21). É a salvação de Deus que deve, a partir de Israel, atingir todos os povos.
No Evangelho (Lc 13, 22-30), também, está no centro o tema da Salvação. O Evangelho de São Lucas abre essa dimensão universal da Salvação de Jesus. Jesus está atravessando cidades e povoados, seguindo o seu caminho para Jerusalém. O atravessar cidades e povoados mostra a missão de Jesus. Ele vai colocando em movimento o Reino de Deus através de sua pregação, dos sinais que realiza. Está subindo para Jerusalém, pois é em Jerusalém que deve morrer, realizar a nossa salvação. Alguém lhe pergunta: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” (Lc 13,23). Jesus, na sua resposta, aponta o caminho da porta estreita. A imagem da porta indica aquele instrumento que nos faz entrar, sair. Jesus usa essa imagem e, ainda, a da porta estreita. Na porta estreita, a dificuldade para entrar e sair é maior.
No Evangelho de São João, Jesus vai dizer que ele é a porta das ovelhas: “Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagens” (Jo 10,9). A imagem da porta nos mostra que é preciso entrar por Jesus, através dos seus ensinamentos, num caminho bonito de seguimento como discípulos, através da Igreja. Não há verdadeiro cristianismo sem seguimento de Jesus Cristo, sem uma busca sincera de configurar a vida ao seu Evangelho, amando e se doando, fazendo da vida um dom de amor ao Senhor Jesus e aos irmãos. O Evangelho mostra pessoas que pareciam ter intimidade com Jesus Cristo, mas não o seguiam; não buscaram identificar a vida ao seu Evangelho num caminho bonito de discipulado e, assim, tiveram a existência reprovada.
O Evangelho termina com uma visão universal: “Virão homens do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus” (Lc 13,29). Quer dizer, pessoas de todas as partes da terra, que se sentarão à mesa no Reino de Deus. A imagem da mesa indica a felicidade eterna, a alegria eterna onde Deus mesmo será a recompensa dos justos, daqueles que buscaram viver da vontade de Deus, buscaram realizar em suas vidas a Palavra de Deus. Que essa Palavra de Deus nos ajude a um caminho bonito de discipulado, de seguimento de Jesus Cristo, entrando pela porta estreita, que é o próprio Jesus.
Cardeal Paulo Cezar Costa
Arcebispo de Brasília