A Escolha do Último Lugar

A Palavra de Deus, na sua pedagogia, quer ir formando o coração do discípulo de Jesus Cristo, configurando-o a Jesus Cristo. Se olharmos bem, o Evangelho primeiro foi vivido por Jesus nas suas atitudes, no seu comportamento, no seu ser. O caminho do cristão é uma busca de imitar Jesus, de ir configurando a vida ao seu Evangelho nas pequenas e grandes coisas. Papa Francisco nos ajuda a entrar no mistério da humildade e da gratuidade do amor, caminho proposto pelo Evangelho deste Domingo. Diz ele: “O Evangelho deste domingo (cf. Lc 14,1.7-14) mostra-nos Jesus a participar numa festa na casa de um líder fariseu. Jesus olha e observa como os convidados correm, como se apressam para conseguir os primeiros lugares. É uma atitude bastante difundida, mesmo nos nossos dias, e não apenas quando somos convidados para um almoço: geralmente, procuramos o primeiro lugar para afirmar uma suposta superioridade sobre os outros. Na realidade, esta corrida aos primeiros lugares prejudica a comunidade, tanto civil como eclesial, porque arruína a fraternidade. Todos nós conhecemos estas pessoas: escaladores, que sempre escalam para subir, subir… Danificam a fraternidade, deterioram a fraternidade. Diante desta cena, Jesus conta duas pequenas parábolas.

“A primeira é dirigida a quem é convidado para um banquete, e exorta-o a não se pôr em primeiro lugar, ‘para que’ — diz ele — ‘não haja outro hóspede mais digno de ti, e aquele que convidou a ti e a ele venha dizer: ‘Por favor, um passo atrás, dá-lhe esse lugar!’’. Uma vergonha! ‘Então ocuparás vergonhosamente o último lugar’ (ver vv. 8-9). Jesus, por outro lado, ensina-nos a ter a atitude oposta: ‘Quando fores convidado, vai e coloca-te em último lugar, para que, quando vier aquele que te convidou, te diga: ‘Amigo, anda mais para a frente!’’. (v. 10). Portanto, não devemos tomar a iniciativa de procurar a atenção e a consideração dos outros, mas sim deixar que outros no-la deem. Jesus mostra-nos sempre o caminho da humildade — devemos aprender o caminho da humildade! — porque é o mais autêntico, e permite também ter relações autênticas. Verdadeira humildade, não falsa humildade.

“Na segunda parábola, Jesus dirige-se a quem convida e, referindo-se ao modo de selecionar os convidados, diz-lhe: ‘Quando ofereceres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos; e serás abençoado porque eles não têm possibilidade de retribuir’ (vv. 13-14). Também aqui, Jesus vai completamente contra a maré, manifestando como sempre a lógica de Deus Pai. E também acrescenta a chave para interpretar este seu discurso. E qual é a chave? Uma promessa: se fizeres assim, ‘receberás a tua recompensa com a ressurreição dos justos’ (v. 14). Isto significa que aqueles que se comportarem desta maneira terão a recompensa divina, muito mais superior do que a recompensa humana: faço-te este favor esperando que tu me faças outro. Não, este não é um cristão. A generosidade humilde é cristã. O intercâmbio humano, de facto, falsifica as relações, torna-as ‘comerciais’, introduzindo o interesse pessoal numa relação que deve ser generosa e gratuita. Pelo contrário, Jesus convida-nos à generosidade abnegada, a abrir o caminho para uma alegria muito maior: alegria de fazer parte do próprio amor de Deus que nos espera, a todos nós, no banquete celestial”. (Papa Francisco, Angelus de 1 de setembro de 2019)

Cardeal Paulo Cezar Costa
Arcebispo de Brasília