Amar como Jesus Amou

A Palavra de Deus de hoje, no Evangelho, coloca diante de nós as condições para o discipulado, para o seguimento de Jesus. Ela nos mostra que o caminho de discipulado não se improvisa. “(…) Nada antepor ao amor por Ele, carregar a própria cruz e segui-lo. De fato, muitas pessoas aproximam-se de Jesus, queriam fazer parte dos seus seguidores; e isto acontecia sobretudo depois de alguns sinais prodigiosos, que o acreditavam como o Messias, o Rei de Israel. Mas Jesus não quer iludir ninguém. Ele bem sabe o que o espera em Jerusalém, qual é o caminho que o Pai lhe pede que percorra: é o caminho da cruz, do sacrifício de si mesmo pelo perdão dos nossos pecados. Seguir Jesus não significa participar num cortejo triunfal! Significa partilhar o seu amor misericordioso, entrar na sua grande obra de misericórdia para cada homem e para todos os homens. A obra de Jesus é precisamente uma obra de misericórdia, de perdão, de amor! Como Jesus é misericordioso! E este perdão universal, esta misericórdia, passa através da cruz. Mas Jesus não quer cumprir esta obra sozinho: quer envolver também a nós na missão que o Pai lhe confiou.

Depois da ressurreição, dirá aos seus discípulos: ‘Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós (…) Àqueles que perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados’ (Jo 20, 21.22). O discípulo de Jesus renuncia a todos os bens porque encontrou n’Ele o Bem maior, no qual qualquer outro bem recebe o seu pleno valor e significado: os vínculos familiares, as outras relações, o trabalho, os bens culturais e económicos e assim por diante… O cristão desapega-se de tudo e encontra tudo na lógica do Evangelho, a lógica do amor e do serviço (…)” (Papa Francisco, Angelus de 8 de setembro de 2013).

Se, na primeira parte, como nos explicou Papa Francisco, Jesus expôs a condição para o discipulado, as duas Parábolas ilustram, mostram que esse caminho não se improvisa, isto é, tem que ir se construindo com planejamento, com maturidade. As duas imagens mostram que é preciso sentar, planejar, examinar as forças para ver se há capacidade de levar o empreendimento até o fim ou vencer o inimigo que aproxima. Planejar é um ato que buscamos fazer nos diversos aspectos da nossa vida. Ter consciência das forças e dos limites é fundamental na vida humana e no caminho de fé. A vida cristã, o seguimento de Jesus Cristo, não se improvisa. É preciso ir seguindo Jesus consciente das próprias forças, mas, também, dos limites.

Nós planejamos as coisas na nossa vida, mas às vezes esquecemos de planejar a vida espiritual. Planejar a vida espiritual implica a capacidade de investir energias espirituais em nós mesmos: encontrar tempo para a oração, para a leitura da Palavra de Deus, priorizar a participação dominical na Eucaristia, sentir-se membro ativo de uma comunidade e colocar a caridade, isto é, a capacidade de sair de si e ir ao encontro do outro, no centro. Que essa palavra de Deus nos ajude a ser verdadeiros discípulos de Jesus Cristo e a ter uma vida espiritual de discípulos missionários, isto é, de pessoas que vivem do amor de Jesus Cristo e o testemunham com beleza na vida do dia a dia.

Cardeal Paulo Cezar Costa
Arcebispo de Brasília