Refletir sobre o nosso caminho de fé é fundamental. A fé ancora a nossa existência no absoluto de Deus nos fazendo perceber que não estamos sozinhos nos caminhos da vida, pois o Senhor caminha conosco e, ainda, será a palavra definitiva da nossa vida quando chegar a nossa hora. Papa Francisco nos ajuda a entrar no mistério do Evangelho deste domingo: “A página do Evangelho de hoje (Lc 17, 5-10) apresenta o tema da fé, introduzido pelo pedido dos discípulos: ‘Aumenta a nossa fé!’ (v. 6). Uma bela oração, que devemos recitar muito durante o dia: ‘Senhor, aumenta a minha fé!’. Jesus responde com duas imagens: o grão de mostarda e o servo disponível. ‘Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a essa amoreira: ‘Arranca-te daí e planta-te no mar’, e ela havia de vos obedecer’ (v. 6). A amoreira é uma árvore forte, bem enraizada na terra e resistente aos ventos. Portanto, Jesus quer fazer compreender que a fé, ainda que pequena, pode ter a força de erradicar até mesmo uma amoreira. E depois transplantá-la no mar, o que é algo ainda mais improvável: mas nada é impossível para aqueles que têm fé, porque eles não confiam nas suas próprias forças, mas em Deus, que tudo pode.
“A fé comparável com o grão de mostarda é uma fé que não é soberba nem autoconfiante; não pretende ser a de um grande crente, por vezes fazendo má figura! É uma fé que, na sua humildade, sente uma grande necessidade de Deus e, na sua pequenez, abandona-se com plena confiança a Ele. É a fé que nos dá a capacidade de olhar com esperança para os altos e baixos da vida, que nos ajuda a aceitar até mesmo as derrotas e os sofrimentos, sabendo que o mal nunca teve, nunca terá, a última palavra.
“Como podemos compreender se realmente temos fé, isto é, se a nossa fé, ainda que pequena, é genuína, pura, direta? Jesus no-lo explica indicando qual é a medida da fé: o serviço. E fá-lo com uma parábola que, à primeira vista, é um pouco desconcertante, pois apresenta a figura de um senhor arrogante e indiferente. Mas precisamente esse modo de fazer do mestre faz sobressair qual é o verdadeiro centro da parábola, ou seja, a atitude de disponibilidade do servo. Jesus quer dizer que o homem de fé se comporta assim em relação a Deus: rende-se completamente à sua vontade, sem cálculos nem pretensões.
“Essa atitude para com Deus reflete-se também na forma como nos comportamos em comunidade: reflete-se na alegria de estarmos ao serviço uns dos outros, encontrando já nisso a nossa recompensa e não nos reconhecimentos nem nas vantagens que daí podem derivar. É o que Jesus ensina no final desse relato: ‘quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: ‘Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer’’ (v. 10).
“Servos inúteis, ou seja, sem pretensão de ser agradecidos, sem reivindicações. ‘Somos servos inúteis’ é uma expressão de humildade e disponibilidade que faz tanto bem à Igreja e recorda a atitude correta de trabalhar nela: o serviço humilde de que Jesus nos deu o exemplo, lavando os pés dos discípulos (cf. Jo 13, 3-17)”. (Papa Francisco, Angelus de 6 de outubro de 2019).
Cardeal Paulo Cezar Costa
Arcebispo de Brasília