A Experiência da Ressurreição

II Domingo da Páscoa

A manifestação de Cristo que abre o livro do Apocalipse se dá no dia do Senhor. O autor ouve uma voz e tem uma visão. É uma experiência que ilumina a vida da comunidade crente e da história. Ele experimenta a força da ressurreição e glorificação de Cristo. É o Senhor da História, aquele que esteve morto, mas agora vive para sempre e tem as chaves da morte e da região da morte. Ele possui as prerrogativas para realizar a salvação, ele tem as chaves da morte e do Hades. Essa imagem nos mostra que na vida, na história, na existência há um sentido mais profundo; que se dá na história, mas que deve ser buscado no mistério de Cristo morto e ressuscitado, Senhor da História. Por isso, o Apocalipse é o livro da esperança. A imagem das chaves indica o seu poder sobre a morte e a região da morte. Sobre aquela realidade que mais humilha o homem – a morte –, ele tem o poder.


Mas a força da ressurreição de Cristo é experimentada, também, pelo povo através dos sinais e maravilhas que eram realizados entre o povo pelas mãos dos apóstolos. Crescia sempre o número dos que aderiam à fé. A imagem e o testemunho de Pedro falam forte, pois transportavam-se os doentes em camas e macas a fim de que Pedro passasse, que pelo menos a sua sombra tocasse alguns deles. É o ressuscitado que continua a realizar a sua obra através dos sinais, da pregação e do testemunho dos apóstolos. Através do testemunho dos apóstolos, o povo pode experimentar a força do ressuscitado, a sua ação na história, na vida concreta do dia a dia.

Essa força da presença do ressuscitado vivem os apóstolos, primeiro sem Tomé, depois com Tomé. Estão com as portas fechadas, quer dizer, com medo, Jesus se coloca no meio deles, lhes dá o dom da paz e os envia: “como o Pai me enviou, também eu vos envio”. O Filho foi enviado pelo Pai, agora ele envia os discípulos. Eles devem ir pelo mundo dando testemunho de Jesus Cristo. É através do nosso testemunho que o ressuscitado, a sua missão, vai adiante, chega até os confins da terra. Ele sopra sobre os discípulos e lhes dá o Espírito Santo para o perdão dos pecados. A sua misericórdia deve ir adiante através da missão da Igreja de perdoar os pecados. A misericórdia é o amor que vem das entranhas de Deus e que quer fazer história na vida de cada um de nós, restaurando, dando vida nova. Por isso este domingo é o domingo da misericórdia, em que a força da ressurreição de Cristo continua a gerar vida nova. O Evangelho traz, por fim, a experiência de Tomé. Tomé não estava com os apóstolos quando o Senhor apareceu, ele deveria ser o primeiro a crer sem ver, mas é fraco na fé. Precisa tocar, colocar a mão. Oito dias depois, Tomé pode experimentar o Senhor ressuscitado, a força da sua ressurreição: “Meu Senhor e meu Deus”. Que a força da ressurreição de Cristo continue a fazer história na nossa vida pessoal, na vida de nossas comunidades e na vida da sociedade mediante o nosso testemunho de cristãos.

Cardeal Paulo Cezar Costa
Arcebispo de Brasília