Neste domingo, reproponho uma reflexão que fiz, em 2021, sobre a nossa vocação a sermos servidores. O ser humano foi criado para servir, para fazer da vida dom de amor, dom de serviço. Quem serve realiza a vida, a existência. Quem não é capaz de servir, não entendeu o sentido da vida.
O Evangelho de hoje (Mc 10, 35-45) apresenta-nos os filhos de Zebedeu que querem se assentar à direita e à esquerda de Jesus, no Seu reino. Jesus lhes mostra que o caminho do discípulo é outro, é o do serviço. Servir pode parecer uma coisa humilhante, pois houve momentos da história onde o ser humano escravizou o outro ser humano por causa da cor da pele, raça etc. Todos somos iguais e irmãos entre nós, independente da cor, raça, condição social etc.
Jesus nos conduz numa outra direção. Ele nos mostra que servir não humilha a pessoa humana, mas a coloca no plano da verdadeira liberdade. Somente quem é livre consegue servir. Os discípulos Tiago e João, filhos de Zebedeu, querem poder, prestígio e pedem a Jesus: «Deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda, quando estiveres na tua glória!» (Mc 10, 37). A pergunta de Jesus, para os dois, talvez os desconserte pois vai na direção de «beber do mesmo cálice» e «ser batizado» com o mesmo batismo dEle. Essas duas metáforas colocam os discípulos na autêntica compreensão do Reino de Deus e na paradoxal lógica da sua participação: seguir Jesus significa trilhar um caminho que passa pelo sofrimento e pela morte. (M. GRILLI, In Ascolto della Voce, 239).
A atitude dos outros discípulos é aquela da indignação com os dois. Mas Jesus mostra que a lógica da vida do discípulo deve ser outra. Não é a lógica dos chefes das nações que oprimem e tiranizam, ou seja, não pode ser a lógica do poder do mundo. Entre os discípulos de Jesus Cristo, o poder é serviço: «… quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate por muitos» (Mc 10, 44-45). A missão de Jesus foi interpretada como serviço na sua forma radical e fundamental de sacrifício da vida em favor de muitos. A forma extrema do serviço de Jesus, sua morte de cruz, vem indicada como caminho para os discípulos de Jesus. Jesus serviu, doando a vida, fazendo da Sua vida um dom de amor pela nossa salvação. Este é o caminho do discípulo de Jesus.
Essa Palavra de Deus quer nos ajudar a vivermos o poder como serviço, não como autoritarismo. O poder serviço não implica renúncia ao poder. Basta olharmos a própria autoridade de Jesus. Não existe sociedade sem o exercício do poder. Ele sempre existirá e deverá ser exercido na vida da sociedade e da Igreja. Nossa geração lutou contra o Estado autoritário, viveu a crise do Pai, talvez como reação a formas de poder autoritário. A maturidade da vida implica um caminho de reconciliação com o poder. Os que o exercem devem ter sempre diante de si «o poder serviço», que não oprime a pessoa, mas a dignifica e engrandece.