Caros irmãos e irmãs,
No sétimo domingo da Páscoa, celebramos, aqui no Brasil e em muitos outros lugares, a solenidade da Ascensão do Senhor. Quarenta dias após a Ressurreição, Jesus sobe ao céu por seu próprio poder; não é uma despedida, mas um gesto que marca um novo jeito de caminhar conosco em nossa jornada rumo à pátria definitiva.
A primeira leitura nos fala dos quarenta dias de Jesus ressuscitado aparecendo aos apóstolos. Essas quarentenas na história da salvação sempre se revelaram dias quaresmais (quarenta dias de dilúvio, quarenta anos do povo no deserto, quarenta dias do Cristo no deserto).
O dom do ressuscitado traz com Ele tamanha alegria que, nesta última quarentena, transformada pelo Senhor que faz novas todas as coisas (Ap 21,5), o pranto, a dor e a penitência dão lugar ao dom da paz e ao cântico novo da vitória, acompanhados de uma intensa preparação para Pentecostes (Lc 24,49). Em uma de suas homilias, São João Crisóstomo comenta: “…nenhum general permite que seus soldados saiam para atacar um grande número de inimigos enquanto ainda estão desarmados, assim também Jesus não permite que os discípulos saiam para o conflito antes da descida do Espírito Santo” (Hom. 1 in acta).
Com a Ascensão de Cristo, a carne humana está sentada à direita do Pai de modo definitivo, finalmente um herdeiro de Davi assenta-se para sempre no trono prometido (2Sm 7); com Ele, o gênero humano, decaído no pecado de Adão, não só foi resgatado, mas elevado ao mais alto dos céus.
A subida de Jesus para o céu é uma mostra de qual deve ser a nossa meta certa; também é um convite a um olhar para as alturas sem se esquecer que estamos aqui como luz dos povos, como bem nos recordou o nosso papa, Leão XIV, na homilia de sua primeira missa aos cardeais: “que a Igreja seja um farol que ilumina as noites do mundo”. Não podemos ficar parados com um olhar passivo esperando o dia do retorno glorioso, a missão de Jesus continua em nós, seus discípulos missionários; é precisamente isto que Ele quer — que cooperemos todos no crescimento de seu Reino e sejamos suas testemunhas até os confins da terra (cf Lc 24,8).
Dom Vicente de Paula Tavares
Bispo Auxiliar
