Estamos celebrando a realeza de Cristo. Neste dia, comemoram-se os cristãos leigos e leigas, pessoas comprometidas com o anúncio e testemunho de Jesus Cristo na Igreja e na sociedade. Esta solenidade foi instituída pelo Papa Pio XI, com a encíclica Quas primas, de 11 de dezembro de 1925. Cristo Rei do Universo marca o fim do ano litúrgico. Durante um ano se vai celebrando a passagem de Cristo em nosso meio, santificando-nos, divinizando-nos através das celebrações litúrgicas, através da Palavra proclamada, por meio da caridade, etc. Essa passagem santifica-nos, diviniza-nos — torna-nos melhores. A solenidade de Cristo Rei quer afirmar o senhorio de Jesus sobre tudo. Toda a história tem seu início Nele e tudo caminha para Ele. Ele é o sentido de tudo.
A Palavra de Deus, nas leituras e no Evangelho, fala da realeza. Davi é ungido rei de Israel (2Sm 5, 3). A realeza de Davi prefigura aquela de Cristo, que é descendente de Davi. No Evangelho (Lc 23, 35-43), Jesus crucificado é denominado Rei. Desde os escárnios até as palavras acima de sua cabeça: “Este é o Rei dos judeus”, afirma-se a sua realeza. Era caçoado pelos soldados que lhe ofereciam vinagre e diziam: “Se és o Rei dos judeus, salva-te a ti mesmo” (Lc 23, 37). É um rei que deve mostrar-se, afirmar a própria realeza, salvando-se. Mas não era esse o significado da missão que tinha, pois deveria morrer para nos salvar. São Lucas capta bem o significado das tentações quando afirma que o diabo o deixou até a hora oportuna. A cruz era a hora oportuna, onde, no auge da sua dor, da sua agonia, foi tentado por três categorias de pessoas a salvar-se: pelos chefes, os soldados e por um dos malfeitores. Era a tentação de usar os poderes messiânicos em benefício próprio. Mas Jesus, que durante seu ministério tinha realizado a vontade do Pai, morre como servo obediente ao Pai, entrega a vida por nossa salvação. Ele é o Rei que morre por amor aos seus, pois o amor não olha para os próprios interesses, não se coloca no centro. O amor ama até o dom de si. O Evangelho de São João expressa essa verdade afirmando “que não há maior amor do que doar a vida” (Jo 15, 13). Na cruz, tendo como trono o madeiro da cruz, se entende o verdadeiro sentido da realeza de Cristo. É a realeza do amor que não obriga ninguém a segui-lo, a adorá-lo, a reconhecê-lo. Ao amor só se pode acolher, dar assentimento com gratuidade e liberdade. O amor é livre. Ao imenso amor de Cristo só se pode responder com amor.
São Paulo, na segunda leitura (Cl 1, 12-20), manifesta a obra do Pai que “nos libertou do poder das trevas e nos recebeu no reino do seu Filho amado, por quem temos a redenção, o perdão dos pecados”. Paulo descreve o primado de Cristo sobre tudo, pois “tudo foi criado por Ele e para Ele”. A realeza de Cristo implica afirmar que tudo provém Dele e tudo caminha para Ele. Ele é o Senhor de tudo, que, ressuscitado, o Pai constitui Kyrios, Senhor (Fl 2, 11).