A Vida Eterna: Nossa Verdadeira Felicidade

Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos

A Bula do Jubileu, Spes non Confundit (20-21), de Papa Francisco, ilumina o sentido da nossa Esperança: “Jesus morto e ressuscitado é o coração da nossa fé. São Paulo, ao enunciar esse conteúdo em poucas palavras (usa só quatro verbos), transmite-nos o ‘núcleo’ da nossa esperança. ‘Transmiti-vos, em primeiro lugar, o que eu próprio recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras; apareceu a Cefas e depois aos Doze’ (1Cor 15,3-5). Cristo morreu, foi sepultado, ressuscitou, apareceu. Por nós, passou através do drama da morte. O amor do Pai ressuscitou-O na força do Espírito, fazendo da sua humanidade as primícias da eternidade para a nossa salvação. A esperança cristã consiste precisamente nisto: face à morte onde tudo parece acabar, através de Cristo e da sua graça que nos foi comunicada no Batismo, recebe-se a certeza de que ‘a vida não acaba, apenas se transforma’, para sempre. Com efeito, sepultados juntamente com Cristo no Batismo, recebemos n’Ele, ressuscitado, o dom duma vida nova, que derruba o muro da morte, fazendo dela uma passagem para a eternidade.

“E se, diante da morte, dolorosa separação que nos obriga a deixar os nossos entes queridos, não é possível qualquer retórica, o Jubileu oferecer-nos-á a oportunidade de descobrir, com imensa gratidão, o dom daquela vida nova recebida no Batismo, capaz de transfigurar o seu drama. […] Na fonte batismal, se inaugura o oitavo dia, isto é, o da ressurreição, o dia que ultrapassa o ritmo habitual, marcado pela cadência semanal, abrindo assim o ciclo do tempo à dimensão da eternidade, à vida que dura para sempre: essa é a meta para a qual tendemos na nossa peregrinação terrena (cf. Rm 6,22).

“Então, que será de nós depois da morte? Com Jesus, além deste limiar, há a vida eterna, que consiste na plena comunhão com Deus, na contemplação e participação do seu amor infinito. Tudo o que agora vivemos na esperança, vê-lo-emos então na realidade. A propósito, escreveu Santo Agostinho: ‘Quando me unir a Vós com todo o meu ser, não existirá para mim em lado algum dor e tristeza. A minha vida será uma vida verdadeira, totalmente cheia de Vós’. Então, o que caracterizará tal plenitude de comunhão? O ser feliz. A felicidade é a vocação do ser humano, uma meta que diz respeito a todos.

“Mas o que é a felicidade? Que felicidade esperamos e desejamos? Não uma alegria passageira, uma satisfação efêmera que, uma vez alcançada, volta sempre a pedir mais, numa espiral de avidez em que o espírito humano nunca se encontra saciado, antes sente-se cada vez mais vazio. Precisamos duma felicidade que se cumpra definitivamente naquilo que nos realiza, ou seja, no amor, para se poder dizer já agora: sou amado, logo existo; e existirei para sempre no Amor que não desilude e do qual nada e ninguém me poderá separar. Recordemos ainda as palavras do Apóstolo: ‘Estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem as potestades, nem a altura nem o abismo, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, Senhor nosso’ (Rm 8,38-39)”.

Cardeal Paulo Cezar Costa
Arcebispo de Brasília