Meus irmãos e irmãs, a liturgia deste sexto domingo da Páscoa nos apresenta Jesus na última ceia, despedindo-Se dos discípulos e consolando-os. Ele fala do amor autêntico manifestado na obediência, que garante a presença de Deus junto daqueles que O amam, anuncia a vinda do Espírito Santo como Mestre e Consolador e oferece o dom da verdadeira paz.
No Evangelho, Jesus declara: «Se alguém me ama, guardará a minha palavra e o meu Pai o amará, e Nós viremos e faremos nele nossa morada». Note que o amor a Cristo não se reduz a sentimentos ou palavras vazias: o amor verdadeiro implica obedecer à Sua Palavra. Guardar a Palavra de Jesus significa acolher o Evangelho e colocá-lo em prática. «Guardar os Seus mandamentos» não pode ser um fardo, mas, sim, um motivo de alegria ao viver à vontade d’Aquele a quem amamos. Essa obediência amorosa não é servilismo, mas resposta de profunda gratidão a Deus. Quem ama Jesus procura viver como Ele viveu, seguindo Seus ensinamentos de perdão, serviço e obediência ao Pai.
O resultado de amar e obedecer a Jesus é este: «Meu Pai o amará, e Nós viremos e faremos nele Nossa morada». O Pai e o Filho, no Espírito Santo, fazem em nós Sua morada íntima. É uma presença misteriosa e espiritual, porém verdadeira: Deus vive em nós e caminha conosco. São Paulo ensina que somos templo do Espírito Santo (1Cor 6,19), o que confirma que o Senhor, pela graça, escolhe o interior de cada fiel como Sua morada. Essa presença traz conforto e força: mesmo em meio às tribulações, podemos lembrar que Deus habita em nós com amor. Assim se cumpre a promessa de Jesus de que não nos deixaria órfãos (Jo 14,18).
Antes de partir, Jesus promete enviar um outro Consolador aos discípulos: «O Defensor, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que Eu vos tenho dito». Não caminhamos às cegas: o Espírito nos guia à compreensão da verdade plena e atualiza as palavras de Cristo em nossa mente e em nosso coração. Ele nos dá luz para entender os ensinamentos de Jesus e força para colocá-los em prática. Nas horas de dúvida ou de esquecimento, é o Espírito quem nos faz lembrar das palavras de Cristo e vivê-las concretamente.
Em seguida, Jesus transmite aos discípulos um dom precioso: «Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo». A paz de que Ele fala não é efêmera nem superficial. Não se trata apenas da ausência de conflitos externos ou de um sentimento passageiro de tranquilidade: é uma serenidade que nasce da confiança em Deus e da certeza de Sua presença amorosa. O Espírito Santo derrama em nossos corações a paz divina: Ele «desarma o coração e o enche de serenidade», eliminando inquietação, ódio e medo.
A paz de Cristo não nos aliena da realidade nem nos torna ingênuos, mas nos capacita para enfrentar os conflitos com o coração pacificado, confiantes de que Deus está no controle. «Não se perturbe nem se intimide o vosso coração» (Jo 14,27) – eis a exortação do Senhor.
Que Deus vos abençoe!
Dom Antonio de Marcos
Bispo Auxiliar