Saúdo com alegria e afeto os nossos bispos, padres, religiosos(as), cada leigo e cada leiga.
Estamos reunidos nesta Assembleia Arquidiocesana de Pastoral para celebrarmos a nossa comunhão, avaliarmos o caminho percorrido com o plano de pastoral e continuarmos colocando a Palavra de Deus no centro da nossa caminhada de Igreja. Esta não é uma assembleia para construirmos um novo plano pastoral. Isso acontecerá, se Deus quiser, em 2025.
O Papa Francisco, desde 2015, propôs à Igreja um caminho Sinodal. A Igreja está buscando fazer este caminho. Estamos, desde 2021, vivendo o Sínodo sobre a sinodalidade. A sinodalidade indica um modo de ser Igreja que articula comunhão, missão e participação. A Relação de Síntese define a sinodalidade como “caminhar dos cristãos com Cristo e para o Reino, junto com toda a humanidade; orientada para a missão, essa comporta o reunir-se em assembleia nos diversos níveis da vida eclesial, a escuta recíproca, o diálogo, o discernimento comunitário, a criação de consenso como expressão da presença de Cristo vivo no Espírito e o assumir de uma decisão, numa corresponsabilidade diferenciada[1].
O Sínodo usou como método a Conversação espiritual. Método que suscita diálogo entre os componentes de pequenos grupos, onde as pessoas aprendem a se escutar mutuamente, escutando o Espírito. A fecundidade do método consiste numa escuta autêntica entre os componentes de um grupo para discernir aquilo que o Espírito diz à Igreja. A sua prática transforma indivíduos, comunidades e pode transformar a Igreja. Conversação no Espírito significa viver a experiência da condivisão na luz da fé e na busca da vontade de Deus, numa atmosfera autenticamente evangélica, através da qual o Espírito Santo pode fazer ouvir a sua voz inconfundível.
A sinodalidade não é fim em si mesmo, ela está ordenada à missão. Ela quer plasmar a comunidade missionária, a Igreja missionária.
A relação de síntese: uma Igreja Sinodal em missão se divide em três partes:
- O rosto da Igreja Sinodal;
- Todos discípulos, todos missionários;
- Tecer laços, construir comunidade.
- Homilia do Papa Francisco
Proponho, agora, um trecho da homilia do Papa Francisco, na missa de encerramento desta primeira sessão do Sínodo, que deve orientar o nosso caminho Sinodal, de Igreja. O Papa Francisco, comentando o texto de Mt 22,34-40, propõe dois verbos para a nossa reflexão: Adorar e Servir.
O primeiro verbo: adorar. Amar é adorar. A adoração é a primeira resposta que podemos oferecer ao amor gratuito, ao amor surpreendente de Deus. A maravilha própria da adoração é essencial na Igreja, sobretudo neste tempo em que perdemos o hábito da adoração. De fato, adorar significa reconhecer na fé que só Deus é Senhor e que, da ternura do seu amor, dependem as nossas vidas, o caminho da Igreja, as sortes da história. Ele é o sentido do nosso viver.
Ao adorá-Lo, redescobrimo-nos livres. Por isso, na Sagrada Escritura, o amor ao Senhor aparece frequentemente associado à luta contra toda a idolatria. Quem adora a Deus rejeita os ídolos, pois, enquanto Deus liberta, os ídolos tornam-nos escravos. Enganam-nos e nunca realizam o que prometem, porque são “obra das mãos dos homens” (Sl 115,4). A Escritura é severa contra a idolatria, porque os ídolos são obra do homem e, por este, manipulados, ao passo que Deus é sempre o Vivente, que está aqui e no além, “que não é feito como eu O penso, que não depende de quanto eu espero d’Ele e pode, por conseguinte, transtornar as minhas expectativas, precisamente porque está vivo. E a prova de que nem sempre temos a ideia certa de Deus é o fato de às vezes ficarmos decepcionados: eu esperava isto, imaginava que Deus Se comportasse assim, mas enganei-me. Deste modo trilhamos de novo o caminho da idolatria, querendo que o Senhor atue segundo a imagem que nós fizemos d’Ele” (C. M. Martini, Os grandes da Bíblia. Exercícios Espirituais com o Antigo Testamento, Florença 2022, 826-827). Isto é um risco que sempre podemos correr: pensar em “controlar Deus”, encerrar o seu amor nos nossos esquemas, quando, pelo contrário, o seu agir é sempre imprevisível, ultrapassa-nos e por isso este agir de Deus suscita maravilha e exige adoração. Como é importante este maravilhar-se!
Sempre devemos lutar contra as idolatrias: sejam as mundanas, que muitas vezes derivam da vanglória pessoal, como a ânsia do sucesso, a autoafirmação a todo custo, a ganância do dinheiro (o diabo entra pelos bolsos, não o esqueçamos!), o encanto do carreirismo; sejam as disfarçadas de espiritualidade, como a minha espiritualidade, as minhas ideias religiosas, a minha habilidade pastoral… Vigiemos para não acontecer colocarmo-nos no centro a nós em vez d’Ele. Mas voltemos à adoração… Que esta seja uma atividade central para nós, pastores: dediquemos diariamente um tempo à intimidade com Jesus, Bom Pastor, diante do sacrário. Adorar. Que a Igreja seja adoradora! Adore-se o Senhor em cada diocese, em cada paróquia, em cada comunidade! Porque só assim nos voltaremos para Jesus, e não para nós mesmos; porque só através do silêncio adorador é que a Palavra de Deus habitará as nossas palavras; porque só diante d’Ele seremos purificados, transformados e renovados pelo fogo do seu Espírito. Irmãos e irmãs, adoremos ao Senhor Jesus!
O segundo verbo: servir. Amar é servir. No mandamento maior, Cristo liga Deus e o próximo, para que não apareçam jamais separados. Não existe experiência religiosa que seja surda ao grito do mundo; falo duma verdadeira experiência religiosa. Não há amor a Deus sem envolvimento no cuidado do próximo; caso contrário, corre-se o risco do farisaísmo. Talvez tenhamos de verdade muitas e belas ideias para reformar a Igreja, mas lembremo-nos: adorar a Deus e amar os irmãos com o seu amor, esta é a grande e perene reforma. Ser Igreja adoradora e Igreja do serviço, que lava os pés à humanidade ferida, acompanha o caminho dos mais frágeis, dos débeis e dos descartados, sai com ternura ao encontro dos mais pobres. Assim no-lo ordena Deus, como ouvimos na primeira Leitura.
Irmãos e irmãs, penso naqueles que são vítimas das atrocidades da guerra; nas tribulações dos migrantes, no sofrimento escondido de quem se encontra sozinho e em condições de pobreza; em quem é esmagado pelos fardos da vida; em quem já não tem mais lágrimas, em quem não tem voz. E penso nas vezes sem conta em que, por trás de lindas palavras e eloquentes promessas, se favorecem formas de exploração, ou então nada se faz para as evitar. É um pecado grave explorar os mais frágeis, pecado grave que corrói a fraternidade e destrói a sociedade. Nós, discípulos de Jesus, queremos levar ao mundo outro fermento, o do Evangelho: Deus em primeiro lugar e, juntamente com Ele, aqueles para quem vão as suas predileções, ou seja, os pobres e os mais frágeis.
É esta, irmãos e irmãs, a Igreja com que somos chamados a sonhar: uma Igreja serva de todos, serva dos últimos. Uma Igreja que acolhe, serve, ama, perdoa, sem nunca exigir antes um atestado de “boa conduta”. Uma Igreja com as portas abertas, que seja porto de misericórdia. “O homem misericordioso – disse Crisóstomo – é um porto para os necessitados: o porto acolhe e liberta do perigo todos os náufragos; sejam eles malfeitores, bons ou o que quer que sejam (…), o porto abriga-os dentro da sua enseada. Assim também tu, quando vires por terra um homem que sofreu o naufrágio da pobreza, não julgues, não peças contas da sua conduta, mas livra-o da desgraça” (Discursos sobre o pobre Lázaro, II, 5).
Estes dois sentidos de amar – amar é adorar, amar é servir – da homilia de conclusão da primeira sessão do sínodo mostram que a sinodalidade é um caminho espiritual. Se faltar a profundidade espiritual, a sinodalidade permanece um caminho de fachada.
- Concluo com uma proposta para a nossa amada Arquidiocese
Neste ano de 2024, nos reunirmos em pequenos grupos para lermos o Evangelho de São Marcos. A pequena comunidade reunida ao redor da Palavra de Deus, com a consciência de que a Palavra de Deus ouvida, meditada e rezada forma o coração do discípulo missionário, forma a comunidade missionária. A proposta é para toda a Arquidiocese. Ela quer ajudar a aplicar o nosso Plano Pastoral, quer formar a comunidade missionária em sintonia com as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da CNBB. Que, um dia por semana, paremos e, usando a metodologia da conversação espiritual, nos encontremos para ler, meditar e rezar com o Evangelho de São Marcos. Por que iniciarmos com o Evangelho de São Marcos? Porque é o Evangelho deste Ano Litúrgico e, segundo o grande biblista Carlo Maria Martini, o Evangelho de São Marcos é o Evangelho do discípulo. Essa proposta vem ao encontro da Carta Compromisso da XXI Assembleia Eclesial do Regional Centro Oeste: Realizar, decididamente, nas Arquidioceses a Animação Bíblica da Pastoral, como princípio da conversão ao estado permanente de missão. E, ainda, visa continuar a colocar nossa Igreja num caminho Sinodal, onde a Palavra de Deus vai gerando a comunidade da escuta, da fraternidade e da comunhão. Onde a metodologia da Conversação Espiritual vai sendo absorvida e torna-se prática na vida de nossas comunidades e paróquias.
Para esta leitura, a Arquidiocese oferecerá um pequeno subsídio como ajuda. Já existem tantos materiais, mas queremos confeccionar um material simples, com a dinâmica da Conversação Espiritual, onde também, de acordo com os diversos temas do Evangelho, os conteúdos do Sínodo serão aos poucos apresentados, meditados e assumidos.
Uma outra iniciativa que retomaremos em 2024 serão as Visitas Pastorais Missionárias. Acontecerão seis por Vicariato.
Obrigado.
[1] A escuta no caminho Sinodal é fundamental. O Papa Francisco, no discurso em comemoração dos cinquenta anos do sínodo dos bispos afirma: “Para os padres sinodais pedimos antes de mais nada, do Espírito Santo, o dom da escuta: escuta de Deus até ouvir com Ele o grito do povo; escuta do povo, até respirar nele a vontade a que Deus nos chama”(Discurso do dia 17 de outubro de 2015).