COP30: Igreja Católica de quatro continentes reafirma união em defesa da Casa Comum

Durante a tarde desta quarta-feira (12/11), a Igreja Católica promoveu o Simpósio Internacional – Igreja Católica na COP30, um encontro dedicado ao debate sobre ecologia integral, justiça climática e conversão ecológica.

O evento integrou oficialmente a programação da Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas (COP30), sediada pela primeira vez na Amazônia brasileira. Organizado pela Articulação Brasileira para a COP30, o simpósio buscou apresentar as perspectivas da Igreja e de seus parceiros na defesa da Casa Comum, destacando seu compromisso com a justiça climática e com caminhos de conversão ecológica inspirados pela Doutrina Social da Igreja.

Logo no início, um vídeo recordou o processo de mobilização da Igreja para a COP30 — das pré-COPs realizadas nas cinco macrorregiões do Brasil ao documento entregue ao Papa Leão XIV com proposições do Sul Global (Ásia, América Latina e Oceania). O material reforçou uma mensagem central: “A crise climática é também uma crise espiritual e moral. Cuidar da criação é parte indissociável do seguimento a Jesus Cristo.”

A abertura do simpósio contou com a bênção de Nossa Senhora de Nazaré, conduzida pelo Arcebispo de Belém (PA), Dom Júlio Akamini, anfitrião do encontro. O Bispo saudou os participantes destacando a alegria de acolher representantes de diversos países no coração do bioma amazônico e da Arquidiocese de Belém, terra do Círio.

O Núncio Apostólico no Brasil, Dom Giambattista Diquattro, também dirigiu palavras de acolhida, recordando o legado do Papa Francisco e seu magistério sobre o clima. Ele sublinhou que as mudanças climáticas não podem ser reduzidas a debates técnicos ou econômicos, mas exigem uma abordagem ecológica, social e profundamente humana.  “Toda injustiça contra a terra é também uma injustiça contra o ser humano. Toda ferida infligida à criação torna-se ferida no coração humano.”

O núncio reforçou ainda o alerta urgente da exortação Laudate Deum: “O mundo em que vivemos está se desmoronando e talvez se aproxime de um ponto de ruptura.”

Para Dom Diquattro, a verdadeira conversão ecológica passa pela renovação interior, pois segundo ele, “converter-se ecologicamente não é apenas mudar comportamentos externos, mas reencontrar em Deus o sentido da existência. A justiça em relação à terra e ao ser humano é uma única obra de amor.”

O Arcebispo de Porto Alegre (RS), presidente da CNBB e do Celam, Dom Jaime Spengler, ressaltou que as respostas à crise ambiental não podem se limitar a ajustes técnicos. “Precisamos integrar as cosmovisões e práticas dos povos indígenas e ribeirinhos. Habitar o planeta exige uma conversão profunda de nossas relações com a criação.”

Dom Jaime também fez um apelo para que o cuidado da vida esteja no centro das escolhas sociais e políticas. “Não podemos fazer média com a cultura da morte. Somos chamados a ser sementes de esperança, apoiados na ética e na fé.”

Representando as Conferências Episcopais da Ásia, o Cardeal Felipi Neri, Arcebispo de Goa e Damão, apresentou pontos do documento entregue ao Papa Leão XIV, denunciando o modelo de extrativismo que marca a relação entre o Norte Global e os países vulneráveis.

Ele lembrou que a Ásia é fortemente impactada pela crise climática, com enchentes e deslocamentos populacionais expressivos. “A transição energética precisa considerar as comunidades locais e os pobres. A lógica de mercado não pode prevalecer sobre a dignidade humana.”

O Cardeal Fridolin Ambongo, presidente do SECAM e Arcebispo de Quinxassa (República Democrática do Congo), descreveu o histórico de exploração do continente africano. “As nações ricas agem como urubus sobre nossas riquezas. Por causa dos minerais, há mais de 50 conflitos ativos na África.”

Ele destacou que o documento preparado para o Papa defende um modelo econômico centrado na pessoa humana, alinhado à ecologia integral. O texto apresenta dez propostas concretas e está sendo divulgado na COP30.

Da região do Pacífico, Ryan Rimenes, presidente da Conferência Episcopal do Pacífico, relatou o drama de comunidades que já vivenciam os efeitos severos do aquecimento global. “Muitas ilhas podem ser submergidas ainda em nosso tempo. Tufões, aumento do nível do mar e mineração no fundo do oceano ameaçam nossas casas.”

Ele reforçou que as iniciativas pastorais da região se inspiram na Laudato Si’ e no documento conjunto do Sul Global. “Comprometemo-nos a cuidar das nossas ilhas e da nossa Casa Comum.”

Representando o Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE), o Cardeal Ladislav Nemet lembrou que o continente vive seus próprios desafios, incluindo crises energéticas intensificadas pela guerra. “Precisamos encontrar soluções conjuntas com o Sul Global. A conversão ecológica é responsabilidade de todos os povos.”

Após a abertura, o simpósio prosseguiu com o painel mediado por Dom Vicente de Paula Ferreira, presidente da Comissão Especial para a Mineração e Ecologia Integral da CNBB.

Com foto e informações da CNBB.