A liturgia de hoje nos questiona acerca do que é essencial na nossa vida, na nossa caminhada. Num mundo onde tantas opções se colocam diante de nós, não se pode perder o sentido Daquele que faz a diferença, que preenche a nossa existência, que dá à nossa vida um sentido de eternidade. Aquele pão que sustenta a existência no caminho rumo à terra prometida.
Na primeira leitura, Israel é peregrino no deserto e, por causa da dureza da caminhada, da falta do pão murmura, olha para trás, relembra a experiência do Egito e parece preferir os sofrimentos do Egito: «Quem dera tivéssemos morrido pelas mãos do Senhor no Egito, quando nos sentávamos junto às panelas de carne e comíamos com fartura! Porque nos trouxestes a este deserto, para matar de fome a toda esta gente?» (Ex 16, 3). A murmuração nasce, sempre, da incapacidade de entrar no projeto de Deus, de entender o projeto de Deus. Diante da dureza da caminhada no deserto, a vida de escravidão do Egito talvez parecesse oásis.
O deserto prova, coloca o homem diante do essencial. No deserto, o homem encontra-se privado de tudo, pois não se planta e não se colhe, não se cultiva e nem se acumulam tesouros. Nesta condição de essencialidade, de viver somente do necessário, o homem encontra-se com a sua real condição de necessitado, de impotente e aprende a esperar tudo do amor misericordioso de Deus, aprende a esperar a carne e o pão como dom de Deus. Ao povo que vê aqueles grãos finos como a geada sobre a terra e pergunta: o que é isto? Moisés respondeu: «Isto é o pão que o Senhor vos deu como alimento».
No Evangelho está a realidade do povo que busca Jesus porque tinha comido pão e ficado saciado. Jesus exorta o povo a dar um salto, a esforçar-se pelo alimento que não se perde, mas que permanece até a vida eterna e que o Filho do Homem dará (Jo 6, 27). O grande perigo da vida humana pode ser aquele no qual permanecemos agarrados, focados somente nas coisas deste mundo, nos bens materiais, sem percebermos que o ser humano é muito mais que o pão material. Ele necessita lutar pelo pão material, pela realização aqui neste mundo, pela vida digna. Também isso faz parte da vida e da dignidade humana.
Jesus convidou o Israel do seu tempo e a nós hoje a ir além: a lutar pelo pão que desce do céu e dá vida ao mundo. Jesus é este pão que desceu do céu e dá vida ao mundo. Quando lhe pedem: «Senhor, dá-nos sempre deste pão». Jesus responde: «Eu sou o pão da vida…». O pão remete àquilo que é fundamental à existência humana, aquilo sem o qual a existência não se realiza na sua totalidade, na sua plenitude. Sem Jesus, a existência não se realiza, pois o ser humano foi criado por Deus e para Deus. Só Ele pode realizar a existência humana no seu desejo de infinito, na sua abertura ao totalmente Outro. Este pão é Cristo, que vai se dando a nós na caridade perfeita da Eucaristia, que abre a nossa vida à eternidade, que nas palavras do beato Carlo Acutis: «… é a minha autoestrada para o céu».