Padre Modino – Vaticano
Na meditação que precedeu o início da reflexão sobre o Módulo dos Lugares, a monja beneditina recordou a condição dos primeiros cristãos, como “estrangeiros residentes”, afirmando que “se o lugar da Igreja é sempre um espaço-tempo concreto de encontro, o caminho do Evangelho no mundo vai de limiar em limiar: foge de toda estática, mas também de toda ‘santa aliança’ com os contextos culturais da época. Ele habita neles e é guiado por seu Princípio vital – o Espírito do Senhor – para transcendê-los”.
Uma dinâmica já presente no “não está aqui” da ressurreição e na vida da primeira Igreja, cujos membros, “as proporções da cruz de Jesus os protegem imediatamente de se enredarem em culturas sedentárias e idólatras. Em sabedorias achatadas sobre a dinâmica da autossalvação”. A partir daí, “a memória das palavras de Jesus também exorta a Igreja de hoje a se enraizar em todas as partes da humanidade, mas a torna vigilante com relação a toda homologação”. O desafio, de acordo com o Instrumentum Laboris da Segunda Sessão, é “superar uma visão estática dos lugares”, ressaltou a religiosa, “mesmo os mais sagrados, mesmo os mais populares”.
Banquetes na Bíblia
Em suas palavras, Angelini refletiu sobre os banquetes, o banquete universal de Isaías e aquele em que, no encontro com o fariseu, Jesus mostra sua abertura ao diálogo com aqueles que são diferentes. Isso “porque a diferença ilumina e discerne a autenticidade dos lugares”. Jesus ama os banquetes, afirmou ela, porque “para Jesus, a mesa humana é um ‘lugar’ de encontro no caminho, e um lugar arriscado de verdade”. Nas palavras da beneditina, a mesa é “um lugar do humano onde a itinerância constitutiva da proclamação encontra uma parada necessária; onde os relacionamentos têm suas raízes; um ‘lugar’ altamente simbólico onde a fome é desnudada e compartilhada de baixo para cima, mas também um lugar onde as hipocrisias ocultas são expostas”.
Para Jesus, o lugar é onde o homem passa fome, pois ali “o Evangelho da verdade pode ser anunciado”. Portanto, “a Igreja Sinodal é – sempre – desafiada a redescobrir esses lugares”, enfatizou. É no lugar radical do humano que Jesus inaugura a relação generativa, o lugar para dizer Deus. Mas ele também advertiu contra “os banquetes inspirados na lógica mercenária e o protagonismo que se aproveita do outro em necessidade”, que é comum hoje em dia. Jesus busca “uma ética da interioridade e da autenticidade, e a rejeição de todo ritualismo vão”.
Para Angelini, “a duplicidade de coração contradiz radicalmente a coexistência das diferenças”, afirmando que “o diálogo com as culturas implica discernimentos arriscados, raramente aplaudidos”. A religiosa advertiu contra “a hipocrisia que tanto desanima as novas gerações”, sobre “culturas de aparência, que não saciam, na realidade, ao contrário, nos matam de fome”. Diante disso, fez um apelo para promover o estilo de Deus, para reunir os outros, em uma interioridade regenerada, e a partir daí, hoje, “redescobrir a fecundidade dos lugares onde podemos compartilhar a fome e a esperança humilde e tenaz”, buscando a fraternidade, “na mesa onde todos podem desfrutar, na mesa onde podem extrair e transmitir o Dom que nos torna um dom para os outros”, concluiu.
Necessidade de uma Igreja enraizada
Por sua vez, o relator geral do Sínodo, cardeal Hollerich, lembrou que este módulo fala da “concretude dos contextos nos quais as relações são encarnadas, com sua variedade, pluralidade e interconexão, e com seu enraizamento no fundamento nascente da profissão de fé”, citando o Instrumentum Laboris. Para o cardeal de Luxemburgo, citando o mesmo texto, “a Igreja não pode ser compreendida sem estar enraizada em um lugar e em uma cultura”, defendendo a concretude, o enraizamento, refletindo sobre as redes de relacionamentos, marcadas pelo ambiente digital.
Nessa perspectiva, refletiu sobre “as relações que se estabelecem entre lugares e culturas”, o que leva a abordar a comunhão, os vários âmbitos de relacionamento entre igrejas, a troca de dons, e dentro das igrejas locais, explicitando elementos presentes no Instrumentum Laboris. Hollerich lembrou o propósito do Sínodo: “o Santo Padre nos chamou aqui para ouvir nossos conselhos sobre como tornar seu serviço e o da Cúria Romana mais eficazes hoje”, insistindo que “ele tem o direito de saber o que realmente pensamos, a partir da vida e das necessidades do Povo de Deus nos lugares de onde viemos”.
Um Módulo que “atravessa e questiona a experiência vivida por aqueles de nós que estão aqui”, afirmou. Hollerich recordou o que foi vivido na Aula Paulo VI, onde os participantes da Assembleia Sinodal “viveram uma experiência rica e intensa”, mas também não isenta de “privações e dificuldades”, que “leva a um encontro com o Senhor e faz surgir a alegria do Evangelho”. Para que isso não permaneça um privilégio dos participantes, ele nos convidou a “nos perguntarmos quais são os caminhos, as formas, também organizacionais e institucionais, para que a riqueza da experiência que vivemos aqui, neste lugar, possa ser acessível a todo o Povo de Deus, e não apenas através de nossa história, mas também através da renovação de nossas Igrejas”.