Papa Francisco nos explica o Evangelho deste domingo (cf. Mc 3, 20-35), que “[nos] mostra […] dois tipos de incompreensão que Jesus teve que enfrentar: a dos escribas e a dos seus próprios familiares.
“A primeira incompreensão. Os escribas eram homens instruídos nas Sagradas Escrituras e encarregados de as explicar ao povo. Alguns deles são enviados de Jerusalém à Galileia, onde a fama de Jesus começava a difundir-se, a fim de o desacreditar aos olhos do povo. […] Estes escribas chegam com a acusação clara e terrível — eles não poupam meios, vão ao centro e dizem o seguinte: ‘Ele tem Belzebu, é pelo príncipe dos demônios que expulsa os demônios’ (v. 22). Ou seja, é o chefe dos demônios que o impele; que equivale a dizer mais ou menos: ‘ele é um endemoninhado’. Com efeito, Jesus curava muitos doentes, e eles pretendem fazer crer que não o faz com o Espírito de Deus — como fazia Jesus —, mas com o do Maligno, com a força do diabo. Jesus reage com palavras fortes e claras, não tolera isto, pois aqueles escribas, talvez sem se darem conta, estão a cair no pecado mais grave: negar e blasfemar o Amor de Deus que está presente e age em Jesus. E a blasfêmia, o pecado contra o Espírito Santo, é o único pecado imperdoável — assim diz Jesus — porque parte de um fechamento do coração à misericórdia de Deus que age em Jesus.
“Mas este episódio contém uma admoestação que serve a todos nós. Com efeito, pode acontecer que uma grande inveja pela bondade e pelas boas obras de uma pessoa possa levar a acusá-la falsamente. Há nisto um grande veneno mortal: a maldade com que, de maneira intencional, se pretende destruir a boa fama do outro. Deus nos livre desta terrível tentação! […]
“O Evangelho de hoje fala-nos também de outra incompreensão, muito diversa, em relação a Jesus: a dos seus familiares. Eles estavam preocupados, porque a sua nova vida itinerante lhes parecia uma loucura (cf. v. 21). Com efeito, ele mostrava-se muito disponível com o povo, sobretudo com os doentes e os pecadores, a ponto de não ter tempo nem sequer para comer. Jesus era assim: primeiro as pessoas, servir o povo, ajudar o povo, ensinar ao povo, curar as pessoas. […] Por conseguinte, os seus familiares decidem reconduzi-lo a Nazaré, a casa. Chegam ao lugar onde Jesus está a pregar e mandam chamá-lo. Disseram-lhe: ‘Estão ali fora, tua mãe e teus irmãos que te procuram’ (v. 32). Ele respondeu: ‘Quem são minha mãe e meus irmãos?’, e, olhando para as pessoas que estavam ao seu redor a ouvi-lo, acrescentou: ‘Aí estão minha mãe e meus irmãos. Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe’ (vv. 33-34). Jesus formou uma nova família, já não baseada nos vínculos de sangue, mas na fé nele, no seu amor que nos acolhe e nos une, no Espírito Santo. Todos aqueles que acolherem a palavra de Jesus são filhos de Deus e irmãos entre si. Acolher a palavra de Jesus torna-nos irmãos entre nós, faz de nós a família de Jesus. Falar mal dos outros, destruir a fama dos outros, torna-nos a família do diabo”. (Papa Francisco, Ângelus de 10 de junho de 2018).