Na celebração, o Cardeal convidou os presentes a acolher, à semelhança de São João Batista, a alegria e o paradoxo da salvação, mesmo quando esta se manifesta “em meio a uma grande dor”.
Ao refletir sobre o sentido do Natal e da vinda do Salvador ao mundo, o Cardeal Parolin destacou que Deus não elimina magicamente as dificuldades humanas, mas entra nelas para caminhar com o seu povo.
“O Senhor vem e nos visita em nossos desertos existenciais: não faz os problemas desaparecerem, mas nos ajuda a enfrentá-los junto com Ele. E acontece como quando a estepe floresce de repente”, afirmou.
A esperança que nasce no paradoxo da dor
Celebrada poucos dias antes do encerramento do Ano Santo e do fechamento da Porta Santa, a Eucaristia foi marcada por um forte apelo à esperança jubilar, especialmente dirigida àqueles que se sentem privados de qualquer alegria. Segundo o secretário de Estado, o Senhor deseja que a sua salvação alcance sobretudo os excluídos, os que choram e os que carregam sofrimentos profundos.
Essa mensagem, reconheceu o Cardeal, pode parecer paradoxal. No entanto, recordou que, nas Escrituras, o paradoxo abre o coração humano para uma realidade maior, capaz de ultrapassar os limites do raciocínio puramente humano. Acolher esse paradoxo, internalizá-lo e atravessar esse limiar significa iniciar um verdadeiro caminho de conversão.
O Cardeal Parolin deteve-se na figura de São João Batista, apresentada no Evangelho proclamado na liturgia. Aquele que anunciava a conversão às margens do Jordão encontra-se agora preso, acorrentado por Herodes Antipas. O Cardeal sublinhou a dramaticidade da situação: o profeta que anunciava o juízo vê-se, ele próprio, submetido à prova, quando parecia que o mal triunfava.
Essa experiência, observou o secretário de Estado, é comum a todo ser humano. Há momentos em que a vida coloca a fé à prova, a ponto de surgir a dúvida de que a história teria escapado das mãos de Deus.
A salvação anunciada aos pobres
A resposta de Jesus aos discípulos de João “o Evangelho é anunciado aos pobres”, foi apresentada pelo Cardeal como a pedra angular da mensagem cristã. Trata-se do paradoxo que João Batista é chamado a acolher: a salvação não acontece à margem do sofrimento, mas dentro dele, assumindo o destino dos mais pobres e desamparados.
Na solidão da prisão, João experimenta que Deus não o abandona. Pelo contrário, descobre que a Boa-Nova se dirige antes de tudo aos que estão no fundo do poço, aos que vivem a experiência da fragilidade e da dor.
O caminho do Senhor, explicou o Cardeal, não consiste em eliminar os problemas, mas em visitar o ser humano em suas desolações, entrar em suas feridas e ali permanecer, oferecendo consolo e esperança.
Ao concluir, o Cardeal Parolin evocou o profeta Isaías, que descreve a ação salvadora de Deus como o florescimento do deserto. Onde parecia reinar a morte, surgem sinais de vida nova. “Essa alegria que vem de Cristo torna os cristãos capazes de entrar na dor dos outros, despertando a magnanimidade, a compaixão e o desejo de ajudar a libertar o próximo de tudo o que o aliena”, frisou.
Por fim, o secretário de Estado confiou todos os presentes à Virgem Maria, “fonte de alegria” e “causa da nossa felicidade”. Com ela, concluiu, aprendemos a cultivar uma fé serena e uma esperança confiante que, mesmo em meio às provações, sustentam uma vida verdadeiramente feliz.
Com foto e informações do Vatican News.