O Hoje da Palavra de Deus

3º Domingo do Tempo Comum

O texto de hoje (Lc 1, 1-4; 4, 14-21) nos mostra que o Evangelho de São Lucas nos coloca na verdade de Jesus Cristo, pois o evangelista fez um «estudo cuidadoso de tudo». Ele quis, por meio do Evangelho, fazer o mistério de Cristo e nos falar no hoje da nossa história.

É o mesmo hoje que Jesus proclama na sinagoga de Nazaré e que Papa Francisco comenta: «No Evangelho da Liturgia de hoje vemos Jesus que inaugura a sua pregação (Lc 4, 14-21): é a primeira pregação de Jesus. Ele vai a Nazaré, onde cresceu, e participa na oração na sinagoga. Levanta-se para ler e, no rolo do profeta Isaías, encontra a passagem relativa ao Messias, que proclama uma mensagem de consolação e libertação para os pobres e oprimidos (Is 61, 1-2). No final da leitura, “os olhos de todos estavam fixos n’Ele” (v. 20). E Jesus começa assim: “Hoje cumpriu-se esta escritura” (v. 21). Reflitamos sobre este hoje. É a primeira palavra da pregação de Jesus citada no Evangelho de Lucas. Pronunciada pelo Senhor, indica um “hoje” que atravessa todas as épocas e permanece sempre válido. A Palavra de Deus é sempre “hoje”. Começa um “hoje”: quando lês a Palavra de Deus, na tua alma tem início um “hoje”, se a compreenderes bem. Hoje. A profecia de Isaías remontava a séculos, mas Jesus, “pelo poder do Espírito” (v. 14), torna-a atual e, sobretudo, leva-a a cumprimento, indicando o modo de receber a Palavra de Deus: hoje. Não como uma história antiga, não: hoje. Fala hoje ao teu coração.»

E o Papa Francisco prossegue: «Os concidadãos de Jesus impressionaram-se com a sua palavra. Não obstante enevoados pelos preconceitos, não acreditem nele, percebem que o seu ensinamento é diferente daquele dos outros mestres (v. 22): intuem que em Jesus há algo mais. O quê? Há a unção do Espírito Santo. Às vezes acontece que os nossos sermões e os nossos ensinamentos permanecem genéricos, abstratos, não comovem a alma nem a vida do povo. E por quê? Porque lhes falta a força deste hoje: aquilo que Jesus “enche de significado” com o poder do Espírito é o hoje. Hoje fala-te. Sim, às vezes ouvimos palestras impecáveis, discursos bem construídos, mas não comovem o coração e, por isso, tudo permanece como antes. Também muitas homilias – digo isto com respeito, mas com tristeza – são abstratas, e, em vez de despertar a alma, fazem-na dormir. Quando os fiéis começam a olhar para o relógio – “quando acabará isto?” – adormecem a alma. A pregação corre este risco: sem a unção do Espírito empobrece a Palavra de Deus, cai no moralismo ou em conceitos abstratos; apresenta o Evangelho com distância, como se estivesse fora do tempo, longe da realidade. E este não é o caminho. Mas uma palavra na qual a força do hoje não pulsa, não é digna de Jesus e não ajuda a vida das pessoas.

É por isso que aqueles que pregam, por favor, são os primeiros a ter que experimentar o hoje de Jesus, para o poder comunicar no hoje dos outros. E se quiser dar palestras, conferências, que o faça, mas noutro lugar, não no momento da homilia, onde deve transmitir a Palavra de maneira a comover os corações.» (Papa Francisco, Angelus de 23 de janeiro de 2022)