Neste domingo, olhamos de forma especial para a mãe de Jesus e nossa mãe, a Virgem Maria. Encontramo-nos diante do mistério de Maria, a mulher preservada da mancha do pecado original. O texto do livro do Gênesis 3, 9-15 coloca diante de nós a dramaticidade da história. Deus cria o ser humano para a amizade com Ele, para uma relação livre de amor, onde Deus caminha com o ser humano e esse responde ao chamado de Deus. Agora, Adão se esconde, precisa que Deus o chame: «Adão onde estas?» É o drama do pecado que rompe esta relação livre de amor, de resposta entre o tu, de Deus, e o homem.
Todo ser humano, em virtude da unidade do gênero humano, traz em si essa marca do pecado original. O pecado original não tem caráter de falta pessoal, mas consiste na privação da santidade e da justiça originais. Essa realidade não aconteceu com Maria. Maria foi a mulher concebida de forma imaculada, sem a mancha do pecado original. Como afirma a Igreja: “a beatíssima Virgem Maria foi preservada da mancha do pecado original, no primeiro momento de sua concepção, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano” (DZ 2803).
A definição do dogma por Pio IX em 1854 coloca, no centro, a obra salvadora de Cristo, pois Maria é redimida por singular privilégio, em vista dos méritos de Cristo. Com o ato redentor aplicado em antecipação a Maria, o Pai preparou o espaço materno para que a encarnação acontecesse, preparou aquela mulher que deveria ser a mãe do seu filho na história, a Bem Aventurada Virgem Maria.
No Evangelho (Lc 1, 26-38), encontramos o anjo Gabriel que vai à Galiléia, a uma vila que chama Nazaré, à periferia do mundo de então. Vai ao encontro de uma virgem que se chama Maria. Deus que a tinha preparado, preservando-a da mancha do pecado original, vai pedir o seu consentimento, o seu «sim» para que o Seu plano salvífico pudesse se realizar. Deus não age sem a liberdade humana. Maria deve dizer «sim» ao projeto de amor de Deus.
Bento XVI descreve com beleza esta realidade citando São Bernardo numa homilia de advento: «Depois do fracasso dos primeiros pais, o mundo inteiro está às escuras sob o domínio da morte. Agora Deus procura entrar de novo no mundo; bate à porta de Maria. Tem necessidade do concurso da liberdade humana: não pode redimir o homem, criado livre, sem um “sim” livre à sua vontade. Ao criar a liberdade, de certo modo, Deus se tornou dependente do homem; o seu poder está ligado ao “sim” não forçado de uma pessoa humana. … Ora, no momento do pedido a Maria, o céu e a terra como que suspendem a respiração. Dirá “sim”? Ela demora … Porventura lhe será obstáculo a sua humildade? Só por essa vez, não sejas humilde, mas magnânima! Dá-nos o teu sim! Esse momento decisivo, em que dos seus lábios, do seu coração surge a resposta: “faça-se em mim segundo a tua palavra”. É o momento da obediência livre, humilde e simultaneamente magnânima, na qual se realiza a decisão mais sublime da liberdade humana.» ( Bento XVI, A Infância de Jesus, p. 37).so