O segundo e o terceiro domingo do Tempo do Advento nos colocam diante do testemunho de João Batista (Mc 1,1-8), a primeira grande testemunha do Messias. Ele tem um papel único: testemunhar o Messias já no meio dos homens. Ele não aponta para si mesmo, mas para o Messias.
No primeiro versículo do Evangelho, eis a grande introdução ao Evangelho: “Início do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus”. Evangelho quer dizer boa notícia. São Marcos quer apresentar Jesus, Messias e fazer de modo que cada homem reconheça, creia e venha sustentado na fé de que Cristo é verdadeiramente o momento decisivo da história, de cada história.
A bela notícia diz respeito ao fato que Jesus é Chistos, ou seja, Messias. Ele é o Filho de Deus (M. Grilli, Paradoxo e mistero, Il Vangelo di Marco, 17), título esse que perpassa todo o Evangelho de São Marcos: ele é anunciado no início do Evangelho (Mc 1,1), confirmado pelo Pai no Batismo (Mc 1,11) e na Transfiguração (Mc 9,7), pronunciado pela boca dos demônios (Mc 3,11; 5,7).
Durante Seu processo, Jesus aceita esse título (Mc 14,62), o qual é confessado pelo centurião Romano aos pés da cruz: “verdadeiramente este homem era o Filho de Deus” (Mc 15,39). O testemunho de João Batista é introduzido com uma citação de Isaías, onde João é o mensageiro que deve preparar os caminhos do Senhor. João é a voz que grita no deserto. Ele prega um batismo para a conversão dos pecados.
O batismo de João é um rito penitencial onde as pessoas confessam seus pecados e são batizadas por ele no Rio Jordão. Elas afirmam, assim, que querem mudar de vida, que querem dar um novo rumo a suas vidas. João é apresentado como um verdadeiro asceta. A sua forma de vestir-se, comportar-se é rude: “João se vestia com uma pele de camelo e comia gafanhoto e mel do campo” (Mc 1,6). João é o homem humilde que, diante do Messias, não é digno de abaixar para desamarrar suas sandálias (Mc 1,7). O Messias batizará com o Espírito Santo. O Messias recebe o Espírito ao se submeter ao batismo
de João Batista, desenvolverá todo o Seu ministério guiado pelo Espírito e será, após a ressurreição, doador do Espírito. O Senhor continua essa missão por meio da Sua Igreja.
A imagem de João Batista deverá, por dois domingos, ajudar-nos a preparar o coração para celebrar o Natal do Senhor. A imagem de João, identificada pela voz que clama no deserto, deverá nos alertar que a voz de Deus continua a ressoar hoje na Palavra proclamada. Deus continua a nos falar hoje e nos exorta a prepararmos o caminho do Senhor, que deve ser preparado nos nossos corações. João prega no deserto. O deserto foi, para Israel, o lugar da aliança, do sim e do não a Deus. Foi lá que Deus cuidou do povo eleito, deu a Lei; mas foi lá, também, que Israel caiu na idolatria.
O grito de João deve atingir o deserto do nosso coração, da nossa existência. É lá que a sua voz deve suscitar conversão, arrependimento, estradas novas.