Papa destaca: “Uma educação desarmante e desarmada cria igualdade e crescimento para todos”

O Papa Leão XIV recebeu os participantes do Jubileu do Mundo Educativo, encontro que reuniu cerca de oito mil e quinhentas pessoas entre estudantes e educadores, no dia 30 de outubro, na Sala Paulo VI, no Vaticano.

Com emoção, o Santo Padre dirigiu-se aos jovens, afirmando que aguardava esse momento “com grande emoção”. “A companhia de vocês me faz lembrar dos anos em que ensinava matemática para jovens vibrantes como vocês. Agradeço por terem aceitado o convite para virem aqui hoje, para compartilhar as reflexões e esperanças que, por meio de vocês, transmito aos nossos amigos em todo o mundo”, disse.

Em sua fala, o Papa recordou São Pier Giorgio Frassati, “um estudante italiano canonizado durante este ano jubilar”, e citou duas frases do Santo que marcaram sua vida: “Viver sem fé não é viver, mas ir vivendo” e “Para o alto”.

“São afirmações muito verdadeiras e encorajadoras”, disse o Papa Leão XIV, convidando os jovens a terem “a audácia de viver em plenitude”. “Não se contentem com as aparências ou as modas: uma existência centrada naquilo que passa nunca nos satisfaz. Em vez disso, cada um diga em seu coração: ‘Sonho mais, Senhor, quero mais: inspira-me!’”

O Papa encorajou os estudantes a manterem viva a esperança. “Esse desejo é a força de vocês e expressa bem o compromisso dos jovens que planejam uma sociedade melhor, da qual não aceitam ser meros espectadores. Encorajo-os, portanto, a tender constantemente ‘para o alto’, acendendo o farol da esperança nas horas sombrias da história. Como seria bonito se um dia a sua geração fosse reconhecida como a ‘geração plus’, lembrada pelo impulso extra que saberão dar à Igreja e ao mundo.”

O Pontífice lembrou que o sonho de um mundo melhor não pode ser vivido de forma isolada. “Este sonho não pode permanecer apenas de uma pessoa”, disse o Papa. “Devemos nos unir para realizá-lo, testemunhando juntos a alegria de crer no Senhor Jesus.” E ressaltou ainda a importância da educação como instrumento de transformação. “Devemos conseguir isto através da educação, um dos instrumentos mais bonitos e fortes para mudar o mundo.”

Recordando o Pacto Educativo Global, lançado pelo Papa Francisco há cinco anos, Papa Leão XIV ressaltou. “Vocês não são apenas destinatários da educação, mas seus protagonistas. Convido-os a se aliarem para inaugurar uma nova era educativa, na qual todos, jovens e adultos, nos tornemos testemunhas críveis da verdade e da paz.”

Inspirando-se em John Henry Newman, o Papa citou o santo estudioso — que “muito em breve será proclamado Doutor da Igreja” — para falar sobre o poder transformador do conhecimento compartilhado. “Ele dizia que o saber se multiplica quando é partilhado e que é no diálogo das mentes que se acende a chama da verdade. Assim, a verdadeira paz nasce quando muitas vidas, como estrelas, se unem e formam um desenho. Juntos, podemos formar constelações educativas, que orientam o caminho futuro.”

O Papa prosseguiu: “Cada um é uma estrela, mas, juntos, vocês são chamados a orientar o futuro. A educação une as pessoas em comunidades vivas e organiza as ideias em constelações de sentido. A educação nos ensina a olhar cada vez mais para o alto. Não se limitem a olhar para o celular e para os seus fugazes fragmentos de imagens: olhem para o Céu, para o alto.”

Além disso, alertou para os riscos de uma sociedade que prioriza o saber técnico e esquece a dimensão interior. “Não basta ter grande conhecimento científico, se depois não sabemos quem somos e qual é o sentido da vida. Sem silêncio, sem escuta, sem oração, até as estrelas se apagam. Podemos conhecer muito do mundo e ignorar o nosso coração. Penso que por trás de muitos sofrimentos dos jovens esteja também o vazio criado por uma sociedade incapaz de educar a dimensão espiritual da pessoa humana, e não apenas as dimensões técnica, social e moral”, frisou.

Recordando Santo Agostinho, o Papa citou: “O nosso coração vive inquieto, enquanto não repousa em Vós.” E explicou: “Educar para a vida interior significa ouvir a nossa inquietação, não fugir dela nem empanturrá-la com o que não sacia.”

Entre os novos desafios da educação, o Papa destacou o universo digital e o uso das tecnologias: “Vocês vivem nela, e isso não é mau: contém enormes oportunidades de estudo e comunicação. No entanto, não permitam que o algoritmo escreva a sua história! Sejam os seus autores: sirvam-se da tecnologia com sabedoria e não permitam que a tecnologia se sirva de vocês.”

Sobre a inteligência artificial, o Pontífice observou que “Não basta ser ‘inteligente’ na realidade virtual; é necessária humanidade no trato com os outros, cultivando uma inteligência emocional, espiritual, social e ecológica. Eduquem-se de modo a humanizar o digital, construindo-o como um espaço de fraternidade e criatividade, não como uma prisão onde vocês se fecham, nem como uma dependência ou uma fuga. Em vez de turistas da rede, sejam profetas no mundo digital”, exortou.

O Pontífice citou o exemplo de São Carlo Acutis, “Um jovem que não se tornou escravo da rede, antes a utilizou com habilidade para o bem… A sua iniciativa nos ensina que o digital é educativo quando não nos fecha em nós mesmos, mas nos abre aos outros.”

Encerrando seu discurso, o Papa falou sobre o desafio central do Pacto Educativo Global: a educação para a paz. “Vejam bem como o nosso futuro é ameaçado pela guerra e pelo ódio que dividem os povos. Este futuro pode ser alterado? Certamente! Mas como? Através de uma educação para a paz desarmada e desarmante. Com efeito, não basta silenciar as armas: é preciso desarmar os corações, renunciando a toda forma de violência e vulgaridade. Deste modo, uma educação desarmante e desarmada cria igualdade e crescimento para todos, reconhecendo a igual dignidade de cada jovem, sem nunca os dividir entre aqueles poucos privilegiados que têm acesso a escolas caríssimas e aqueles muitos que não têm acesso à educação”, enfatizou.

Por fim, o Papa convidou os estudantes a serem “construtores de paz”, começando por seus ambientes mais próximos. “Com grande confiança em vocês, convido-os a serem construtores de paz, em primeiro lugar, onde vivem, na família, na escola, no esporte e entre os amigos, indo ao encontro de quem provém de outra cultura.” E concluiu, elevando o olhar ao essencial: “Olhem para o alto, para Jesus Cristo, o sol da justiça, que os guiará sempre pelos caminhos da vida.”

Com fotos e informações do Vatican News.