Papa exorta cristãos a aprenderem com Jesus o grito da esperança que não desiste

Na Audiência Geral desta quarta-feira (10/09), realizada na Praça São Pedro, o Papa Leão XIV dedicou sua catequese ao mistério da cruz, refletindo sobre a experiência de Jesus no momento extremo da entrega.

Mesmo sob chuva e céu nublado, milhares de fiéis e peregrinos acompanharam as palavras do Pontífice. “Na cruz, Jesus não morre em silêncio”, disse o Papa. “Ele deixa a sua vida com um grito, e este grito abrange tudo: dor, abandono, fé e oferenda. Não é apenas a voz de um corpo que cede, mas o sinal máximo de uma vida que se entrega.”

O grito de confiança

O Pontífice destacou que o grito de Jesus foi precedido pela pergunta pungente: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” — o primeiro versículo do Salmo 22. “O Filho, que sempre viveu em íntima comunhão com o Pai, experimenta agora o silêncio, a ausência, o abismo. Não é uma crise de fé, mas a etapa final de um amor que se entrega completamente. O grito de Jesus não é de desespero, mas de sinceridade, de verdade levada ao limite, de confiança que perdura mesmo quando tudo é silêncio.”

Recordando o testemunho do centurião romano que, diante da morte de Cristo, declarou: “Verdadeiramente este homem era Filho de Deus”, o Papa explicou: “É a primeira profissão de fé após a morte de Jesus. É o fruto de um grito que não se perdeu no vento, mas tocou um coração.”

O valor espiritual do clamor

De acordo com Leão XIV, o Evangelho confere um valor profundo ao clamor humano: “O grito pode ser invocação, protesto, desejo, entrega. Pode ser a forma suprema da oração, quando já não nos restam mais palavras. Naquele grito, Jesus colocou tudo o que lhe restava: todo o seu amor, toda a sua esperança. Uma esperança que não desiste. Gritamos quando acreditamos que alguém ainda pode ouvir. Jesus não gritou contra o Pai, mas para Ele. Mesmo em silêncio, estava convencido de que o Pai estava ali.”

“Gritar torna-se então um gesto espiritual. Não é apenas o primeiro ato do nosso nascimento — quando viemos ao mundo chorando — é também uma forma de nos mantermos vivos. Gritamos quando sofremos, mas também quando amamos, chamamos, invocamos. Gritar é dizer que estamos aqui, que não queremos nos esvair em silêncio, que ainda temos algo para oferecer.”

O grito da esperança

O Papa lembrou que o silêncio interior pode consumir, mas o clamor sincero pode transformar. “Jesus nos ensina a não ter medo do clamor, desde que seja sincero, humilde e dirigido ao Pai. Um clamor nunca é em vão, se vier do amor. Nunca é ignorado, se for entregue a Deus. É uma forma de evitar ceder ao cinismo, de continuar acreditando que outro mundo é possível.”

Leão XIV concluiu convidando os fiéis a aprender com Cristo a dar voz à esperança, mesmo em meio à provação: “Se o nosso grito for verdadeiro, pode ser o limiar de uma nova luz, de um novo nascimento. Como foi para Jesus: quando tudo parecia terminado, a salvação estava, na verdade, prestes a começar. Se expressada com a confiança e a liberdade dos filhos de Deus, a voz angustiada da nossa humanidade, unida à voz de Cristo, pode tornar-se fonte de esperança para nós e para os que nos rodeiam.”

Com informações e foto do Vatican News.