A escolha da data, o III Domingo do Advento, conhecido como Domingo Gaudete, destacou, segundo o Pontífice, a dimensão da alegria e da esperança que caracterizam a espera cristã, mesmo em contextos marcados pelo sofrimento.
A Santa Missa foi celebrada na Basílica de São Pedro, com a presença de cerca de cinco mil fiéis, enquanto outros 2.500 acompanharam a celebração por meio de telões instalados na Praça São Pedro. Em sua homilia, o Santo Padre recordou que este domingo litúrgico é tradicionalmente o “domingo da alegria”, sinal de confiança de que algo novo e belo pode sempre acontecer.
O Jubileu como tempo de recomeço
Ao refletir sobre o sentido do Jubileu, o Papa recordou o gesto do Papa Francisco, que em 26 de dezembro de 2024 abriu a Porta Santa da Igreja do Pai Nosso, na Penitenciária de Rebibbia. Na ocasião, Francisco convidou todos a manterem “a âncora da esperança” firme e a “escancarar as portas do coração”.
Segundo o Papa Leão XIV, a imagem da âncora aponta para a fé na vida que nos espera e para a certeza de que um futuro melhor é sempre possível. Ao mesmo tempo, esse gesto é um chamado a sermos agentes de justiça, caridade e reconciliação nos ambientes em que vivemos, especialmente no sistema prisional.
Contudo, ao aproximar-se o encerramento do Ano Jubilar, o Papa reconheceu que ainda há muito a ser feito, inclusive no mundo carcerário. “O cárcere é um ambiente difícil, onde mesmo os melhores propósitos podem encontrar inúmeros obstáculos”, afirmou, exortando todos a não se cansarem nem desanimarem, mas a avançarem com coragem, perseverança e espírito de colaboração.
Justiça como reparação e reconciliação
O Santo Padre sublinhou que ainda persiste a dificuldade de compreender que todo ser humano pode recomeçar após uma queda. “Nenhum ser humano se reduz ao que fez, e a justiça é sempre um processo de reparação e reconciliação”, destacou.
O Papa afirmou que, mesmo em contextos marcados pelo sofrimento e pelo pecado, quando se preservam sentimentos como respeito, sensibilidade, misericórdia e capacidade de perdão, podem brotar gestos e projetos profundamente humanos. “Mesmo entre as paredes das prisões, amadurecem encontros únicos em humanidade”, afirmou.
Esse caminho, explicou, exige um trabalho profundo sobre sentimentos e pensamentos, necessário tanto às pessoas privadas de liberdade quanto àqueles que têm a responsabilidade de representar e exercer a justiça. Nesse sentido, o Jubileu é apresentado como um chamado à conversão, fonte de esperança e de alegria.
Um compromisso que envolve toda a sociedade
O Pontífice convidou a todos a contemplarem Jesus e o seu Reino, lembrando que, embora alguns milagres aconteçam por intervenções extraordinárias de Deus, muitos outros se realizam por meio da compaixão, da atenção e da responsabilidade das comunidades e das instituições.
Essa reflexão conduziu o Papa a destacar outra dimensão fundamental do Jubileu: o compromisso de promover, em todos os ambientes, e de modo especial nas prisões, uma civilização fundada em novos critérios, tendo a caridade como eixo central.
Nesse contexto, o Papa recordou o desejo do Papa Francisco de que, durante o Ano Santo, fossem concedidas “formas de anistia ou de perdão da pena, que ajudem as pessoas a recuperar a confiança em si mesmas e na sociedade”, oferecendo oportunidades concretas de reinserção social. O Pontífice manifestou confiança de que muitos países atenderão a esse apelo.
O desejo de Deus: que ninguém se perca
Retomando o sentido bíblico do Jubileu como “um ano de graça”, no qual se oferece a todos a possibilidade de recomeçar, o Papa relacionou essa perspectiva com o Evangelho do dia. João Batista, ao convidar o povo à conversão, propunha simbolicamente atravessar novamente o rio para entrar na “terra prometida” de um coração reconciliado com Deus e com os irmãos.
O Santo Padre destacou a figura de João como profeta justo e corajoso, mas também profundamente misericordioso com aqueles que, arrependidos, buscavam mudar de vida.
Quase ao final da homilia, o Papa reconheceu as muitas dificuldades enfrentadas no mundo carcerário: a superlotação, a falta de programas educativos estáveis, a escassez de oportunidades de trabalho e, no plano pessoal, o peso do passado, as feridas, as desilusões e a tentação de desistir.
Apesar de tudo isso, o Pontífice reafirmou a mensagem central do Evangelho: o desejo de Deus é que ninguém se perca e que todos sejam salvos. “Nisto consiste o seu Reino e é para isso que se orienta a sua ação no mundo”, afirmou.
Ao aproximar-se o Natal, o Papa convidou todos a abraçarem com ainda mais força esse sonho de Deus, permanecendo constantes no empenho e confiantes. “Sabemos que, mesmo diante dos maiores desafios, não estamos sozinhos: o Senhor está próximo, caminha conosco e, com Ele ao nosso lado, algo de belo e alegre sempre poderá acontecer.”
Com foto e informações do Vatican News.