Neste domingo, a Palavra de Deus apresenta-nos o caminho de Jesus, Messias e Servo, e, consequentemente, o caminho do cristão: servos por amor.
A primeira leitura apresenta-nos a teologia do justo sofredor (Sb, 12. 17-20): «Se, de fato, o justo é “filho de Deus”, Deus o defenderá e o livrará das mãos dos seus inimigos». O justo sofre, armam ciladas contra ele, é condenado à morte vergonhosa, mas proclama a sua confiança em Deus, espera a sua recompensa em Deus. Esta teologia ajudará a fundamentar o caminho de Jesus, pois Ele é o justo que sofre: «O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão. Mas três dias após sua morte, ele ressuscitará» (Mc 9, 31). O Evangelho de hoje (Mc 9, 30-37) se situa nesta perspectiva do messianismo de Jesus como messianismo do servo. Pedro (Mc 8, 27-30) tinha proclamado que Jesus é o Messias. Jesus, então, começou a ensinar os discípulos que: «O Filho do homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos escribas, ser morto e, depois de três dias, ressuscitar», isto é, o seu messianismo é o do servo. Se no tempo de Jesus se tinha a expectativa de um messias triunfal, que viesse para libertar Israel do poder romano, Jesus afirma que o Seu caminho é o do serviço, que a salvação que Ele veio trazer passa pela humilhação, morte de cruz e ressurreição.
Os discípulos, ao oposto de Jesus, estavam preocupados com quem dentre eles era o maior. Jesus está atravessando a Galiléia com Seus discípulos e, quando chegam a Cafarnaum, pergunta-lhes: «O que discutíeis pelo caminho?». O Evangelho diz que eles ficaram calados porque pelo caminho tinham discutido quem era o maior. É a busca que o ser humano tem por poder, por grandeza, que São Tiago, na segunda leitura (Tg 3, 16 – 4, 3), mostra que vem das paixões em conflito dentro de nós. São Tiago usa o termo hedone, ou seja, com este termo, «o autor pensa nas raízes do poder que são o desejo de possuir e de autossuficiência, que invadem o homem e o levam a exercitar um cruel domínio sobre coisas e sobre pessoas sem obter nada em troca” (M. GRILLI, In Ascolto della Voce, 222). O Evangelho descreve a reação de Jesus com solenidade e nobreza: Jesus sentou-se, chamou os doze e lhes disse: «Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!».
A lógica do Reino de Deus não é como a lógica do mundo. No mundo, quem é mais importante, coloca-se em primeiro lugar, é servido pelos outros. Na lógica do Reino de Deus, quem quiser ser o primeiro, coloque-se no caminho do serviço. E Jesus cumpre o gesto pedagógico de pegar a criança e colocar no meio dos discípulos e, a partir daquela imagem, dizer que quem acolhe a criança é a Ele que acolhe e quem O acolhe, está acolhendo o Pai que O enviou.
A criança representa a fragilidade. Com isso, Jesus quer dizer que a salvação não passa pelas mãos dos potentes, mas pelas mãos dos últimos que aceitam, por amor, a estrada da impotência e do serviço.