Uma Fé que Sustenta a Esperança

A palavra de Deus deste domingo abre o nosso coração à grande esperança da fé. Onde a fé sustenta a esperança, torna operoso o amor. O texto da Sabedoria (Sb 18,6-9) mostra que “a noite da libertação fora predita a nossos pais, para que, sabendo a que juramento tinham dado crédito, se conservassem intrépidos”. A fé nos dá algo no presente que abre a nossa existência à grande esperança de Deus, à eternidade. A fé sustenta a medida alta do nosso amor. No Evangelho, encontramos Jesus que exorta os discípulos a entesourar no céu, pois, ‘onde está o teu tesouro, aí estará também o vosso coração’ (Mt 6,21). As três parábolas que Jesus conta exortam os discípulos e a nós, hoje, à vigilância. O discípulo do Reino é chamado a estar pronto, a estar vigilante, a não se iludir porque o patrão está demorando a voltar. Contra um cristianismo vivido sonolentamente, Jesus quer que seus discípulos vivam uma fé vigilante e operosa, uma caridade autêntica, e estejam preparados para a sua volta. Por isso ele enfatiza: “bem-aventurados os empregados que o Senhor encontrar acordados quando chegar” (Lc 12,37).

Bento XVI, comentando essas leituras, nos ajuda a viver vigilantes, esperando o Senhor. Diz ele: “No trecho evangélico deste domingo, continua o discurso de Jesus aos discípulos sobre o valor da pessoa aos olhos de Deus e sobre a inutilidade das preocupações terrenas. Não se trata de um elogio ao desinteresse. Pelo contrário, ouvindo o convite tranquilizador de Jesus: ‘Não temas, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino’ (Lc 12,32), o nosso coração abre-se a uma esperança que ilumina e anima a existência concreta: temos a certeza de que ‘o Evangelho não é apenas uma comunicação de realidades que se podem saber, mas uma comunicação que gera fatos e muda a vida. A porta tenebrosa do tempo, do futuro, foi aberta de par em par. Quem tem esperança, vive diversamente; foi-lhe dada uma vida nova’ (Encíclica Spe salvi, 2). Como lemos no trecho da Carta aos Hebreus, na Liturgia de hoje, Abraão entra com um coração confiante na esperança que Deus lhe abre — a promessa de uma terra e de uma ‘descendência numerosa’ — e parte ‘sem saber aonde ia’, confiando unicamente em Deus (cf. 11,8-12). E, no Evangelho hodierno, Jesus — através de três parábolas — explica como a espera do cumprimento da ‘bem-aventurada esperança’, a sua vinda, deve impelir ainda mais a uma vida intensa, rica de obras boas: ‘Vendei os vossos bens e dai-os de esmola. Fazei para vós bolsas que não envelheçam, um tesouro inesgotável nos Céus, do qual o ladrão não se aproxima e a traça não corrói’ (Lc 12,33). Trata-se de um convite a utilizar as coisas sem egoísmo, nem sede de posse ou de domínio, mas segundo a lógica de Deus, a lógica da atenção ao próximo, a lógica do amor: como escreve sinteticamente Romano Guardini, ‘na forma de uma relação: a partir de Deus, em vista de Deus’ (Accettare se stessi, Bréscia 1992, pág. 44)” (Bento XVI, Angelus de 8 de agosto de 2010).

Que essa Palavra de Deus nos ajude a termos uma fé viva, uma caridade operosa e a esperar na grande esperança da fé. 

Cardeal Paulo Cezar Costa
Arcebispo de Brasília