O Evangelho deste domingo coloca diante de nós do final da narrativa de São Lucas (Lc 24, 35-48), onde o Ressuscitado aparece para os discípulos e lhes dá a missão do testemunho. No início, os discípulos estão cheios de temor, depois, o temor se transforma em alegria. Uma evolução semelhante àquela dos discípulos de Emaús como consequência do encontro com Jesus: a tristeza inicial, que os faz se afastar dos onze, transforma-se em entusiasmo que os faz retornar a Jerusalém para narrar ao grupo aquilo que aconteceu. O texto mostra as testemunhas oficiais da ressurreição não como vítimas de um entusiasmo passageiro, mas convencidas de uma experiência concreta com o Senhor ressuscitado. Os apóstolos vencem a dúvida graças à manifestação de Jesus que Se apresenta diante deles. Eles reconhecem Jesus e O distinguem de um espírito, de um fantasma. O reconhecimento de Jesus, nesse momento, está no reconhecimento da sua realidade física por parte dos discípulos. Isto explica a insistência no mostrar as mãos e os pés. A sua corporeidade é sublinhada, pois os discípulos chegam a tocar as suas mãos e a comer com Ele.
Jesus recorda aos discípulos suas palavras pronunciadas durante a Sua vida com os apóstolos, com as quais acenava ao cumprimento das Escrituras em tudo aquilo que se referia a Ele. É um tema presente em todo o Evangelho de São Lucas: na sinagoga de Nazaré (Lc 4, 21); nas predições da paixão (Lc 9,27; 17, 25); no terceiro anúncio da paixão (Lc 18, 31-33); no diálogo com Moisés e Elias durante a transfiguração, que falam sobre o êxodo de Jesus (Lc 9, 31); na última ceia, ao afirmar que é preciso que se cumpra Nele aquilo que está escrito (Lc 22, 37). Estes ensinamentos vêm comunicados com termos muito semelhantes aos dos discípulos de Emaús. Os discípulos são iluminados não só com a interpretação feita por Jesus, mas também pela luz mesma do acontecimento da ressurreição. A falta dessa compreensão das Escrituras tinha caracterizado a atitude dos discípulos (Lc 9, 45; 18, 34). Agora, a experiência pascal da ressurreição abre a mente para que compreendam o significado das Escrituras.
A conversão e o perdão dos pecados em nome de Cristo devem ser anunciados a todos os povos. Os apóstolos devem começar a atividade missionária por Jerusalém, levando esta mensagem de salvação a todos os povos. Este programa teve início no ministério de Jesus. Assim, como Nele são cumpridas a morte e a ressurreição predita nas Escrituras, é sempre Ele que inicia a pregação da conversão para a remissão dos pecados. Jerusalém ocupa um lugar central no Evangelho, pois é o lugar aonde chega a plenitude da obra da salvação que irá se estender a todos os povos. Jesus dá a missão aos discípulos. Estes devem ser testemunhas de tudo isto. Aqui se liga o fim do Evangelho com o início e desenvolvimento narrado nos Atos dos Apóstolos. O objeto do testemunho vem descrito de forma genérica: «… vós sereis testemunhas disso» (Lc 24, 48). Nesta expressão, está compreendido todo o acontecido antes: as palavras e os ensinamentos de Jesus quando estava com eles e aquilo que foi predito pelas Escrituras, como Jesus os fez compreender, por meio da luz, o acontecimento pascal.
Hoje, a missão do testemunho é nossa. Que este Evangelho nos ajude neste caminho.