Na ocasião, o Cardeal Arcebispo de Brasília, Dom Paulo Cezar Costa, realizou o lançamento do Programa “Não temas, Maria!”, destacando que esta iniciativa arquidiocesana de auxílio às mulheres deseja apresentar a grandeza da dignidade da mulher, fundada no mistério pascal de Cristo, através de formações e ações concretas que possam conscientizar e prevenir todos os tipos de violência.
“Desejo que as nossas paróquias se tornem lugares de dignificação e de proteção. Nós queremos que a mulher que sofre violência e que se sente desprotegida, encontre na comunidade Católica um lugar onde possa desabafar, onde ela seja primeiramente acolhida. Quando uma pessoa sofre, primeiro precisa ser acolhida. Na comunidade terá um grupo que reflita sobre essa questão e que estará preparado para trabalhar com a dignificação da mulher. Então, a partir do momento em que a mulher abrir seu coração, falar daquilo que ela está vivendo, a situação será avaliada para identificar qual será o melhor encaminhamento para ajudar essa mulher, seja na questão jurídica ou em outra, mas que não deixe essa mulher desprotegida. No ano de 2024, onde as capacidades são tantas, mas onde as atrocidades continuam ainda de uma forma, às vezes, até bruta e onde os absurdos continuam a acontecer, nós precisamos mostrar a beleza da nossa fé, pois a fé Católica é de proteção, de salvação”, frisou o Cardeal Arcebispo de Brasília, Dom Paulo Cezar Costa.
O painel do evento contou também com a presença do padre Thaisson Santarém, da Dra. Lenise Garcia, da Dra. Tânia Manzur e da Giselle Ferreira, Secretária da Mulher. Acompanhados pelo Cardeal, os convidados refletiram sobre a proposta do programa inspirado no versículo do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas (1,30), salientando que é preciso dizer para muitas mulheres da sociedade que não estão sozinhas, ressaltando a frase do anjo Gabriel na Anunciação: Não temas, Maria!
“A logo do programa é a expressão do acolhimento e da proteção que são oferecidos pela Igreja Católica, por isso, temos como referência a Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida. A rosa vermelha simboliza as mulheres que precisam ser acolhidas e ressalta a voz da Igreja dizendo para as muitas Marias da nossa cidade, da nossa Arquidiocese, dizendo: Não temas, porque a Igreja Católica está aqui para acolher, para proteger. A rosa tem um rosto, é o rosto da mulher que precisa ser protegida, mas também o rosto da mulher mais importante de todas, Nossa Senhora, porque é através do cuidado maternal de Nossa Senhora que a Igreja também vai zelar e cuidar de cada uma dessas mulheres. Percebam que a rosa está entrelaçada na cruz, ou seja, a raiz da divindade verdadeira, seja de Nossa Senhora, seja de cada mulher, está no Mistério de Cristo. Na entrega total de amor Dele por cada um de nós. A Catedral forma um M, exatamente um sinal de Maria, como um modelo para cada mulher, um modelo de santidade a ser alcançado, mas também temos a rosa como um símbolo da Padroeira da nossa Pátria, Nossa Senhora Aparecida, e como Copadroeira Santa Rita de Cássia. Quem tem devoção a Santa Rita, sabe que a rosa é uma figura importante devido a um milagre que Deus realizou através da intercessão dela, quando uma rosa brotou no meio do inverno, no meio da neve, como sinal da providência de Deus. A Santa das causas impossíveis que tanto sofreu, assim como muitas mulheres atualmente, a situação de violência doméstica, mas ainda assim se santificou e viveu a vontade de Deus, pois não se vingou, mas sempre rezava pelo marido agressivo e pelos filhos para que eles não se tornassem como o pai. Por isso, nós vamos incentivar esta devoção a intercessão de Santa Rita. A logo do programa de forma muito especial quer mostrar que a Igreja Católica acolhe e protege, sendo um local de consolação e refúgio”, explicou padre Thaisson Santarém, Assessor Eclesiástico do Programa “Não Temas, Maria!”
A partir de estatísticas alarmantes divulgadas pelos órgãos públicos em relação ao número elevado de casos de violência contra as mulheres no Distrito Federal, que culminaram no alto índice de feminicídio em 2023, a Arquidiocese de Brasília formulou este programa e conta com a parceria da Secretaria da Mulher, da Rádio Nova Aliança e da Rede Canção Nova.
“Primeiro, a gente tem que entender a seriedade desse assunto. Como é que a gente pode lutar contra a violência em um país que é a quinta maior nação do mundo que mais mata mulheres? As pesquisas revelam que a cada seis horas, uma mulher é vítima de feminicídio no Brasil. Três em cada dez brasileiras já enfrentaram violência doméstica. A cada seis minutos, uma menina ou uma mulher sofre violência sexual. Em 2022, 17 mulheres foram vítimas de feminicídio no Distrito Federal. Em 2023, foram 34. Quero salientar que a Casa da Mulher Brasileira funciona 24 horas, na Ceilândia. A mulher que não tem para onde ir e está sofrendo algum tipo de violência, ela pode ficar no alojamento, que inclusive tem um espaço para criança. É muito mais do que violência doméstica, porque às vezes a mulher quer sair da vulnerabilidade, da situação de violência, mas ela muitas vezes pensa no filho, pensa na situação econômica. Então, no lar também temos a questão de formação e qualificação. Esse é o equipamento público voltado para esse tipo de acolhimento, de atendimento psicossocial e jurídico. Então, essa é a casa mais completa e nós vamos entregar mais quatro casas, duas na Região Norte e duas na Região Sul”, informou Giselle Ferreira, Secretária da Mulher.
Durante o evento, Dra. Tânia Manzur fez uma importante reflexão sobre a igualdade e dignidade da mulher e do homem. “Assim está no Gênesis, homem e mulher os criou à sua imagem e semelhança. Então, o que tem de fundamental é que existe uma igualdade ontológica, aquela igualdade para o mais profundo do ser. Ser, que é o fato de sermos então essas criaturas amadas por Deus, criadas à sua imagem e semelhança. Mas a partir daí tudo é diferente, né? Homem e mulher os criou, então a diferença também já está estabelecida lá no início. No entanto, o pecado acaba fazendo com que, na percepção da diferença, muitas vezes se criem, ao longo da história, antagonismos, às vezes confrontos. E, na verdade, o que deve haver, que a nossa Igreja Católica nos ensina, pois se fundamenta na mensagem de Cristo, é que nas diferenças, nós somos complementares”.
Finalizando o painel, Dra. Lenise Garcia destacou a importância da formação na base familiar, onde reine o respeito, o amor e a união, para que se possa criar uma nova geração de filhos que não reproduzam a violência sofrida dentro de casa.
“É preciso que a gente possa, efetivamente, valorizar vínculos de amor. Que o marido e a mulher saibam estabelecer vínculos de amor entre si e com os filhos, para que a criança nasça em um ambiente acolhedor. Muitas vezes a gente vê, por exemplo, que a própria violência é fruto de agressões sofridas na infância. Aquela pessoa que hoje é violenta, ela sofreu violência quando era criança, fazendo com que também essa violência vá sendo repetida. Por isso, a grande necessidade da formação. Homem e mulher nunca foram opostos, a gente tem exatamente essa complementariedade, e essa é a mentalidade que precisa ser desenvolvida. Não se pode resolver uma violência com outros tipos de violência. O próprio agressor precisa de conversão, de conscientização, é claro, também vai pagar juridicamente pelos crimes cometidos, e aí temos toda a questão também dos instrumentos públicos, mas antes de mais nada, é preciso olhar dentro da família, onde há a necessidade de ser desenvolvida a base em relações de amor. Cristo nos ensina que devemos ter uma relação de amor a todo tempo. Se nós aprendermos isso, já teremos dado grandes passos para superarmos a situação de violência, que muitas vezes se apresentam com falsas opções”, finalizou.
Encerrando a noite de lançamento, o teatro foi palco para uma belíssima apresentação musical “Elas cantam Maria”, com as cantoras Michelle Abrantes, Gabriela Carvalho, Huanda Silva, Lilian Ingrid e Marília de Alexandria (pianista).