Papa Francisco nos ajuda a entrarmos no mistério deste Evangelho: “O Evangelho de hoje, tirado do capítulo 10 de Marcos, subdivide-se em três cenas, cadenciadas por três olhares de Jesus.
A primeira cena apresenta o encontro entre o Mestre e uma pessoa que — segundo o trecho paralelo de Mateus — é identificada como ‘jovem’. O encontro de Jesus com um jovem. Ele corre ao encontro de Jesus, ajoelha-se e chama-lhe: ‘Bom Mestre’. E, depois, pergunta-lhe: ‘Que devo fazer para alcançar a vida eterna?’, ou seja, a felicidade (v. 17). ‘Vida eterna’ não é somente a vida do além, mas é a vida plena, completa, sem limites. Que devemos fazer para a alcançar? A resposta de Jesus resume os mandamentos que se referem ao amor pelo próximo. A este respeito, nada se pode repreender àquele jovem; mas evidentemente a observância dos preceitos não lhe é suficiente, não satisfaz o seu desejo de plenitude. E Jesus intui este desejo que o jovem traz no coração; por isso, a sua resposta traduz-se num olhar intenso, repleto de ternura e carinho. Assim diz o Evangelho: ‘Fixou nele o olhar, amou-o’ (v. 21). Compreendeu que era um jovem bom… Mas Jesus entende também qual é o ponto fraco do seu interlocutor, e apresenta-lhe uma proposta concreta: distribuir todos os seus bens aos pobres e segui-lo. No entanto, aquele jovem tem um coração dividido entre dois senhores: Deus e o dinheiro, e por isso vai embora entristecido. Isto demonstra que fé e apego às riquezas não podem conviver. […]
Na segunda cena, o evangelista enquadra o olhar de Jesus, e desta vez trata-se de um olhar pensativo, de admoestação: ‘Olhando ao seu redor, disse aos discípulos: Como é difícil para os ricos entrarem no Reino de Deus!’ (v. 23). Diante da admiração dos seus discípulos, que se interrogavam: ‘Então, quem pode salvar-se?’ (v. 26), Jesus responde com um olhar de encorajamento — é o terceiro olhar — e diz: sim, a salvação é ‘impossível para os homens, mas não para Deus!’ (v. 27).
Se confiarmos no Senhor, poderemos superar todos os obstáculos que nos impedem de o seguir pelo caminho da fé. Confiar no Senhor! Ele infunde-nos a força, dá-nos a salvação, acompanha-nos ao longo do caminho! E assim chegamos à terceira cena, aquela da solene declaração de Jesus: Em verdade vos digo: quem deixa tudo para me seguir, terá a vida eterna no futuro e o cêntuplo já no presente (cf. vv. 29-30). Este ‘cêntuplo’ é composto pelos bens antes possuídos e depois deixados, mas que se encontram multiplicados ao infinito. Privando-nos dos bens, recebemos o benefício do verdadeiro bem; libertamo-nos da escravidão dos bens e adquirimos a liberdade do serviço por amor; renunciamos à posse e alcançamos a alegria do dom. […]
O jovem não se deixou conquistar pelo olhar de amor de Jesus, e deste modo não conseguiu mudar. Somente acolhendo o amor do Senhor com gratidão humilde poderemos libertar-nos da sedução dos ídolos e da cegueira das nossas ilusões. O dinheiro, o prazer e o sucesso deslumbram, mas depois decepcionam: prometem a vida, mas causam a morte. O Senhor pede-nos que nos desapeguemos destas falsas riquezas para entrar na vida verdadeira, na vida plena, autêntica, luminosa”. […] (Papa Francisco, Ângelus de 11 de outubro de 2015).