Papa Leão XIV: “Educar é promover a dignidade, a justiça e a confiança num mundo em conflito”

Por ocasião do 60º aniversário da Declaração Conciliar Gravissimum Educationis, o Papa Leão XIV publicou, nesta terça-feira (28), a Carta Apostólica Desenhar novos mapas de esperança.

O texto retoma o espírito do documento do Concílio Vaticano II e o relança à luz dos desafios atuais, reafirmando a necessidade de uma formação integral da pessoa humana, que não se reduz a um simples algoritmo, e destacando a família como o primeiro e mais importante lugar da educação. O Pontífice também incentiva o trabalho em rede e a colaboração entre instituições.

Em meio às desigualdades, às guerras, às migrações e às diversas formas de pobreza que ainda privam milhões de crianças do acesso à educação básica, o Papa questiona: como a educação cristã pode responder a essas realidades? O Santo Padre recorda que o documento conciliar, mesmo após seis décadas, “não perdeu sua força” e permanece de extraordinária atualidade.

“Essa mensagem, que impele as comunidades educativas a construir pontes e a oferecer, com criatividade, formação profissional e cívica, é hoje mais válida e urgente do que nunca”, afirma o Papa.

A Carta Apostólica destaca o dinamismo dos carismas educativos ao longo da história: de Santo Agostinho, que via o mestre como aquele que desperta o desejo pela verdade, ao monaquismo, às ordens mendicantes e à tradição jesuíta da Ratio Studiorum. O Papa recorda figuras como São José de Calasanz, São João Batista de La Salle, São Marcelino Champagnat e São João Bosco, que dedicaram a vida à educação dos mais pobres e vulneráveis.

O Santo Padre cita também o exemplo de muitas mulheres corajosas — entre elas Vicenza María López y Vicuña, Francesca Cabrini, Giuseppina Bakhita e Maria Montessori — que abriram caminhos para meninas, migrantes e excluídos.

“Ninguém educa sozinho”, afirma o Papa. A verdadeira educação nasce da colaboração entre professores, alunos, famílias, pastores e toda a sociedade civil. Recordando São John Henry Newman, declarado co-padroeiro do Jubileu do Mundo Educativo ao lado de São Tomás de Aquino, o Pontífice destaca que a formação deve ser “intelectualmente responsável e profundamente humana”.

O Papa insiste que a educação deve unir razão, desejo e coração: “Separar o conhecimento da afetividade é quebrar a pessoa”. A escola e a universidade católicas, portanto, devem ser espaços onde as perguntas são acolhidas e as dúvidas, acompanhadas. Educar, diz Leão XIV, é “uma profissão de promessas”: tempo, confiança, justiça, misericórdia e coragem da verdade.

A Carta reforça a “aliança educativa” como compromisso compartilhado entre família, Igreja e sociedade. A família, recorda o Papa, é o primeiro espaço da educação e não pode ser substituída. “Quando essa aliança funciona, inspira confiança; quando falta, tudo se torna mais frágil.”

Ele pede que escolas, universidades, movimentos e pastorais superem rivalidades e colaborem de modo integrado, aproveitando as diferenças metodológicas como riquezas, não obstáculos. “O futuro exige que aprendamos a colaborar mais e a crescer juntos.”

A educação católica, afirma o Papa, deve formar pessoas integrais, em que a fé “não é uma matéria a mais, mas o sopro que dá vida a todas as outras”. Assim, ela se torna fermento de um humanismo integral, capaz de responder às questões do nosso tempo.

Em um mundo ferido pela guerra, o Papa propõe uma “educação para a paz desarmada e desarmante”, que ensina a depor as armas da palavra agressiva e do olhar crítico para aprender “a linguagem da misericórdia e da justiça reconciliada”.

“Esquecer nossa humanidade comum gera violência; quando a Terra sofre, os pobres sofrem ainda mais.” Por isso, a educação católica deve unir justiça social e ambiental, promovendo a sobriedade, a sustentabilidade e a escolha ética do que é justo, não apenas do que é conveniente.

O Papa encerra a Carta pedindo menos oposições e mais sinfonia do Espírito. Diante da hiperdigitalização, da crise das relações e das desigualdades, e convoca os educadores a exercer “qualidade e coragem”, inspirados pela gratuidade evangélica, que é estilo, método e meta. “Perder os pobres é perder a própria escola.”

Com foto e informações do Vatican News.