Neste quarto capítulo do Evangelho de São Marcos, temos Jesus falando em parábolas. Jesus usa uma linguagem que as pessoas podiam compreender. Ele, no discurso em parábolas, emprega imagens da vida corrente do Israel do seu tempo e algumas tiradas do Antigo Testamento. Imagens que eram do conhecimento de todos. Elas nos conduzem à vida do dia a dia pela sua simplicidade e clareza, pela forma de descrição, etc. Jesus apresentava os seus pensamentos revestidos “com a roupagem de sua pátria e com mão segura dirigia seus ouvintes do conhecido para o desconhecido, do mundo sensível para o Reino dos Céus” (J. GNILKA, Jesus de Nazaré. Mensagem e História, 85). Porque são imagens, as parábolas desvelam as realidades mais profundas do Reino de Deus, mas elas também velam, por isso Jesus deve explicá-las para os discípulos quando estes estão sozinhos. É inegável que as parábolas, mesmo tendo como tema central o Reino de Deus, estão indissoluvelmente ligadas à pessoa e ao comportamento de Jesus.
No Evangelho de hoje (Mc 4, 26-34), Jesus conta duas parábolas. A primeira apresenta a imprevisibilidade do Reino de Deus (Mc 4, 26-29). Alguém que espalha a semente na terra e não sabe como a semente germina e cresce. A imagem do ir dormir e acordar, noite e dia, mostra o tempo que passa e a pessoa que não sabe como isso acontece. Jesus quer mostrar que nem tudo está sob o nosso domínio. Na vida existem tantos mistérios, tantas coisas imprevisíveis. Assim também acontece no Reino de Deus. É nosso o gesto de plantar, mas é Deus quem faz germinar, crescer e produzir. A parábola, talvez, queira nos ensinar a confiarmos mais no amor misericordioso de Deus. Vive-se em um mundo do imediato, onde tudo parece estar ao alcance das mãos. A parábola nos relembra que muitas coisas fogem ao nosso domínio. É assim na nossa vida pessoal e na nossa caminhada de fé. É preciso aprendermos a esperar, a cultivar a virtude cristã da esperança, como nos quer ensinar o Jubileu do próximo ano: “Peregrinos da Esperança”.
A segunda parábola (Mc 4, 31-32) quer nos ensinar que é dos pequenos inícios que vem o grande do Reino de Deus: a imagem do grão de mostarda, de uma semente insignificante, mas que, plantada, se torna uma grande hortaliça. É dos pequenos inícios, das coisas simples, daquilo aparentemente insignificante que nasce o grande do Reino de Deus. Jesus mostra que o minúsculo grão de mostarda semeado na terra se torna uma grande hortaliça. É preciso o ato de semear, de acreditar na semeadura. Só quem semeia, acredita na semeadura, tem a grande hortaliça. Na dinâmica do Reino de Deus, é preciso acreditar nos pequenos inícios, naquilo que aparentemente se mostra insignificante. Causa-me alegria grande quando me sento com as pessoas nas comunidades e elas começam a narrar-me os inícios das paróquias. Paróquias que hoje são grandes, mas que nasceram de pequenos inícios. Da atividade evangelizadora de padres e leigos que acreditaram, que lançaram a semente e viram essa parábola se tornar realidade, viram a semente de mostarda se tornar a grande hortaliça onde os pássaros do céu podem abrigar-se à sua sombra.