A palavra de Deus deste Décimo Sétimo Domingo Comum coloca diante de nós o dom do pão. Na primeira leitura, tem-se Eliseu, que, a partir de vinte pães de cevada e trigo novo, alimenta cem pessoas (2Rs 4, 42-44). Aqueles vinte pães parecem poucos, mas, em obediência à palavra de Deus, que o profeta deve testemunhar e anunciar, as cem pessoas são alimentadas e ainda sobra. O servo de Eliseu vê o mandato do profeta numa perspectiva humana: “Como vou distribuir tão pouco para cem pessoas?” (v. 43). Eliseu responde: “Dá ao povo para que coma; pois assim diz o Senhor: comerão e ainda sobrará” (V. 43). Eliseu é o homem de Deus que age segundo a Palavra de Deus, segundo a vontade de Deus. O pouco, quando olhado numa dimensão de fé, quando colocado à disposição de Deus, torna-se muito, pois é o homem que coloca à disposição de Deus o pouco que tem, e Deus realiza a sua obra.
O Evangelho nos apresenta Jesus cumprindo o milagre da multiplicação dos pães (Jo 6, 1-15). O Evangelista situa bem a cena onde tudo acontece: Jesus vai para Tiberíades, seguido por uma grande multidão, pois viam os sinais que operava a favor dos doentes. Numa sociedade da indiferença, Jesus não é indiferente, ele cura os enfermos; pois, através dele, Deus manifesta a sua misericórdia para com o seu povo. Jesus subiu ao monte e sentou-se com os seus discípulos. A imagem, de certa forma, relembra o gesto de Moisés. Jesus é apresentado como novo Moisés, que, da montanha, alimenta o seu povo.
O Evangelista salienta que era próxima a Páscoa, festa dos judeus. Na Páscoa se celebrava a libertação, se comia os pães ázimos. É interessante que, imediatamente quando vê a multidão, Jesus já faz a provocação sobre o pão: “Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?”. O texto não diz que a multidão estava faminta, mas parece expressar a consciência que Jesus tem de que Ele deve alimentar a multidão. A partir da provocação que fez, os discípulos dão respostas humanas, mas há um menino “com cinco pães de cevada e dois peixes” que o próprio André mostra não ser nada diante da grande multidão. “Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos que estavam sentados” (Jo 6, 11). Jesus cumpre, aqui, o mesmo gesto que cumprirá na instituição da Eucaristia. A ligação entre tal gesto de Jesus e a Eucaristia se mostra, principalmente, pelo desenvolvimento do discurso sobre o pão da vida que ocupará todo esse capítulo sexto do Evangelho de São João. Dos pedaços que sobraram, foram recolhidos doze cestos. Doze relembra o Israel das origens, mas relembra, também, o novo povo de Deus. Doze relembra que esse alimento é o alimento do novo povo de Deus, a Igreja. Os homens exclamavam: “Este é verdadeiramente o profeta que devia vir ao mundo”.
Em Jesus se cumpre a profecia de um profeta como Moisés. Moisés, da montanha, dá a Lei; Jesus, da montanha, alimenta a grande multidão, dá o Pão. Que o encontro com esses textos nos ajude a contemplar o gesto de Eliseu e de Jesus, a fazer da Eucaristia o centro da nossa vida e a colocar o nosso pouco à disposição de Deus.