O Rico sem Amor

XXVI Domingo do Tempo Comum

A palavra de Deus deste domingo nos questiona sobre a nossa capacidade de amar, de olhar ao nosso redor e perceber a necessidade dos irmãos e irmãs que sofrem ao nosso lado. Na primeira leitura (Am 6,1.4-6), Deus denuncia a atitude dos ricos opulentos de Israel que levam uma vida luxuosa e ignoram os pobres, indicados na expressão: “e não se preocupam com a ruína de José” (Am 6,6). O amor para com o próximo é uma questão fundamental no cristianismo. O próximo toma forma concreta naqueles e naquelas que se colocam diante de mim necessitando do meu amor.

O Evangelho coloca diante de nós a parábola do rico opulento e do pobre Lázaro (Lc 16,19-31). O rico é descrito de forma a se pensar num rico opulento: “Havia um rico que se vestia com roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os dias” (Lc 16,19). À sua porta havia um pobre, ao qual o Evangelho dá um nome, chama-se Lázaro. O pobre é descrito na sua condição: “cheio de feridas, estava no chão à porta do rico”. Esse pobre era invisível para o rico, quer dizer, o rico era incapaz de ver a situação daquele ser humano que estava à sua porta. É um rico sem amor, sem compaixão e sem misericórdia. Não tem olhos para ver o pobre. Nem a indigência do outro o rico tinha sensibilidade para perceber. O Evangelho descreve que o pobre “queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico. Além disso, vinham os cachorros lamber suas feridas” (Lc 16,21).

O Evangelho continua na contraposição entre o rico e Lázaro também na outra vida. Morre Lázaro e é levado pelos anjos para o seio de Abraão, morre o rico e é sepultado. Lázaro tem a recompensa na vida futura, o rico sofre os tormentos. O Evangelho mostra que ambos são membros do povo eleito, pois a figura de Abraão une ambos. O pobre Lázaro tem a sua recompensa no seio de Abraão e o rico clama por Abraão para que mande Lázaro molhar a ponta do dedo para refrescar a sua língua. Abraão responde: “Filho, lembra-te de que recebeste teus bens durante tua vida, e Lázaro por sua vez os males; agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado” (Lc 16,25). Talvez, aqui, o texto chegue ao auge da contraposição mostrando como o rico viveu egoisticamente, sem amor e sem misericórdia. Sua incapacidade de amar tornou aquele que jazia à sua porta invisível. Nem as migalhas da mesa do rico ele tinha para comer. Nossas ações nesta vida possuem uma dimensão de eternidade. Quem vive egoisticamente nesta vida, sem exercitar a capacidade de amar, de servir, de se doar, perde o amor eterno, pois Deus é amor. São João da Cruz diz que, no entardecer da vida, seremos julgados no amor. Quem ama a Deus e o encontra nos irmãos, principalmente nos necessitados, tem a Deus. Quem vive só voltado para si, egoisticamente sem perceber os que estão ao redor, perde Deus, perde o amor eterno. Que o encontro com esse Evangelho nos ajude a perceber que o sentido da vida é amar e servir.

Cardeal Paulo Cezar Costa
Arcebispo de Brasília