No contexto do Ano Jubilar, o Padre Gerson Schmidt propõe uma reflexão sobre a espiritualidade da esperança a partir das palavras do Papa Leão XIV e da célebre pintura “O Semeador ao pôr do sol“, de Vincent van Gogh. A imagem, marcada por cores intensas e pelo sol que domina toda a cena, representa para o Pontífice a confiança daquele que semeia mesmo em meio ao cansaço, sabendo que a colheita pertence a Deus.
O Papa recorda que Van Gogh retrata não apenas o gesto do semear, mas também o grão já maduro ao fundo, como se dissesse que a esperança cristã enxerga, desde o início, o fruto que ainda não se vê. O centro da obra, no entanto, não é o semeador, mas o sol: símbolo de Deus, que “move a história”, aquece a terra e faz amadurecer a semente, mesmo quando parece ausente ou distante.
Essa imagem artística dialoga com a homilia do Santo Padre no Dia Mundial dos Pobres, quando o Papa evocou Cristo como o “sol da justiça” anunciado pelo profeta Malaquias. No “dia do Senhor”, afirmava, Deus erguerá definitivamente os humildes e destruirá as obras da injustiça que ferem os vulneráveis. A vitória da vida, dizia o Pontífice, “não é palavra vã, mas realidade concreta”, lembrando a alegria dos discípulos de Emaús que, ao reconhecer o Ressuscitado, viram sua tristeza transformada em esperança[1].
O tema da esperança acompanha todo o ciclo de Catequeses Jubilares, iniciado pelo Papa Francisco e continuado pelo Papa Leão XIV sob o título Jesus Cristo, Nossa Esperança. Em sua primeira audiência geral, em 21 de maio de 2025, o Papa retomou a parábola do semeador como introdução ao anúncio do Evangelho. Ele explicou que as parábolas projetam uma palavra “lançada adiante”, que desperta e interpela, e que a parábola do semeador revela o modo como Deus age: com largueza, sem calcular, oferecendo sua Palavra a todos os tipos de terreno.
O Santo Padre recordou que, na vida espiritual, passamos por momentos diversos — superficialidade, entusiasmo rápido, preocupações sufocantes ou abertura generosa —, mas Deus nunca cessa de confiar. “Ele lança a semente em todas as situações. Talvez, vendo que Ele confia em nós, nasça em nós o desejo de ser terra melhor. Esta é a esperança, fundada na rocha da generosidade e da misericórdia de Deus.”
Ao comentar a pintura de Van Gogh, o Papa destacou que o sol — não o semeador — domina a cena. Assim é na vida cristã: Deus conduz silenciosamente a história e faz germinar a semente, mesmo quando o terreno parece árido. Por isso, o Santo Padre convida cada fiel a perguntar-se: em que situação da minha vida a Palavra de Deus me alcança hoje? E, reconhecendo as próprias limitações, a pedir ao Senhor que prepare o solo do coração para que a semente produza fruto abundante.
A reflexão ecoa o salmo 126: “Quem semeia entre lágrimas ceifará com alegria.” A esperança cristã nasce justamente do encontro com o Ressuscitado, luz que vence as sombras, sustenta o trabalho cotidiano e antecipa o fruto maduro que virá. Assim como o semeador de Van Gogh, somos chamados a lançar a semente com generosidade, confiando que o sol de Deus completará a obra.
Padre Gerson Schmidt é sacerdote da Diocese de Montenegro (RS), jornalista e mestre em Comunicação pela PUCRS. — [1] Audiência Geral de 22 de outubro de 2025.
Com foto e informações do Vatican News.