Quem é meu próximo?

Este domingo coloca diante de nós a pergunta de um mestre da Lei a Jesus sobre o que deve fazer para receber em herança a vida eterna. Ter a vida eterna é desejo de todo homem, de toda mulher. Todos nós queremos viver eternamente. Jesus remete para a Lei de Moisés. E o mestre da Lei responde com sabedoria, fazendo uma ótima síntese daquilo que é essencial: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o coração e com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com toda a tua inteligência; e ao teu próximo como a ti mesmo” (Lc 10, 27). É a centralidade do amor para com Deus, que não é um amor qualquer, mas que deve partir do mais profundo do nosso ser, pois envolve coração, alma, forças e inteligência.

Essas palavras mostram que o amor para com Deus deve atingir o centro da nossa existência. Não é um amor periférico, mas um amor que envolve a existência toda e a molda. No mesmo nível do amor para com Deus, está o amor para com o próximo. São João nos mostra essa interligação entre os dois amores afirmando: “Se alguém disser: Amo a Deus, mas odeia o seu irmão, é um mentiroso” (1Jo 4, 20). Mas aquele doutor da Lei continua a dialogar com Jesus perguntando: Quem é o meu próximo? Jesus responde com a Parábola do Bom Samaritano. Aqui, papa Francisco nos ajudará a entender a parábola.

A parábola fala de um homem “que descia de Jerusalém para Jericó pela estrada que atravessa o deserto da Judeia. Pouco antes, naquela estrada, um homem tinha sido assaltado por bandidos, roubado, espancado e abandonado meio morto. Antes do samaritano, passam um sacerdote e um levita, isto é, duas pessoas que se ocupam do culto no Templo do Senhor. Veem aquele infeliz, mas passam adiante sem parar. Ao contrário, o samaritano, quando viu aquele homem, ‘sentiu compaixão por ele’ (Lc 10, 33), diz o Evangelho. Aproximou-se, limpou-lhe as feridas, derramando sobre elas um pouco de óleo e de vinho; depois carregou-o na sua cavalgadura, levou-o para uma hospedaria e pagou a estadia para ele… Em síntese, ocupou-se dele: é o exemplo do amor pelo próximo. Mas por que escolhe Jesus um samaritano como protagonista da parábola? Porque os samaritanos eram desprezados pelos judeus, por causa de diversas tradições religiosas; mas Jesus mostra que o coração daquele samaritano é bondoso e generoso e que — ao contrário do sacerdote e do levita — ele pratica a vontade de Deus, que quer mais a misericórdia do que os sacrifícios (Mc 12, 33). Deus quer sempre a misericórdia e não a condenação de todos. Quer a misericórdia do coração, porque Ele é misericordioso e sabe compreender bem as nossas misérias, as nossas dificuldades e até os nossos pecados. Dá a todos nós este coração misericordioso! O samaritano faz precisamente isto: imita a misericórdia de Deus, a misericórdia para com quem está em necessidade (…)” (Papa Francisco, Angelus de 14 de julho de 2014).

Jesus termina o Evangelho provocando aquele doutor da Lei e todos nós hoje: “Vai e faze a mesma coisa”. Isto é, coloca-te a caminho no amor a Deus e ao próximo e terás a vida eterna.

Arcebispo de Brasília
Cardeal Paulo Cezar Costa